Pingo Final: Lava Jato não está em risco! Isso é terrorismo mixuruca

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 20/01/2017 10h35
O juiz federal Sergio Moro participa na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado de audiência pública sobre projeto que altera o Código de Processo Penal (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil) Agência Brasil/Fabio Rodrigues Pozzebom Sérgio Moro - Agência Brasil

Desde que a Operação Lava jato existe, vamos ser claros, dizem estar ela em risco, não é mesmo? Vocês já perceberam ser essa a principal peça de marketing dos seus integrantes? Se alguém propõe um lei contra abuso de autoridade, grita-se: “Lava Jato em risco!”. E a imprensa ecoa: “risco, isco, isco, isco…”.  Se alguém critica propostas fascistoides do Ministério Público Federal, grita-se: “Lava Jato em risco!”. E a imprensa ecoa: “risco, isco, isco…”. Parte do jornalismo virou mero repetidor de uma espécie de lobby que entende ser “do bem”.

Eis que leio os jornais e os principais portais e, ora vejam, dada a morte trágica de Teori Zavascki, o que temos? Grita-se: “A Lava Jato está em risco”. E a imprensa, bem…, “isco, isco, isco”. Leio no Estadão que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou na Suíça que a operação “está em jogo”.

Como é que é?

Então morre um ministro do Supremo, o que, sem dúvida, é lamentável, e se parte do princípio de que isso pode ameaçar a operação? Ameaçar por quê? Então não há procedimentos institucionais no Brasil? Então as decisões não são tomadas segundo a prescrição e a disciplina legais? Então somos mesmo uma republiqueta de bananas, onde o estado de direito depende do voluntarismo deste ou daquele?

Teori era, sem dúvida, um nome adequado para a relatoria do petrolão em razão do perfil. Mostrava-se um homem desapaixonado de abstrações. Nunca se viu nele a centelha da ideologia. Ao contrário: brinquei certa feita que havia nele um quê de burocrata búlgaro. Coibiu excessos, deixou passar outros tantos, errou, acertou… Como todo mundo.

Lamento profundamente a sua morte porque, em primeiro lugar, há a dimensão humana da tragédia, que não pode ser ignorada. Mas lastimo também que se perca, vá lá, uma parcela importante de comedimento e racionalidade fria. Acho que isso sempre há de fazer falta quando estamos a falar dessa operação. Vimos nesta quinta, por exemplo, um delegado da força-tarefa a falar bobagem pelos cotovelos…

Mas é preciso que certos setores parem com essa Síndrome do Coelho do Bambi! A qualquer evento que lhes desagrada ou os assusta, lá vem a gritaria: “ A Lava Jato está em risco! A Lava Jato está em jogo!”.

Fogo, fogo na floresta!

Sergio Moro, o juiz, numa manifestação pública que é menos de apreço por Teori do que de desapreço pelo Supremo, diz que a operação não teria existido sem o ministro. Ora, tenham a santa paciência! Algumas almas sirigaitas que andam por aí aproveitam para erigir o cadáver em mártir de uma grande conspiração, embora, até anteontem, acusassem o ministro de ser o principal responsável por Lula ainda estar solto. A suposição era que ele havia manobrado para isso. Antes, ele era o conspirador. Agora que está morto, é vítima da conspiração. Que gente mixuruca! Que gente patética! Que gente sem-vergonha!

O espetáculo é grotesco. O ministro, de resto, não apanhou menos quando passou a fazer parte do julgamento do mensalão. Sim, eu também o critiquei algumas vezes — críticas que mantenho, porque diziam respeito aos votos que proferia, não à pessoa do magistrado.

É evidente que lamento profundamente a morte de Teori também em razão dos desdobramentos políticos, que já começam a mostrar a fuça…

Risco da Lava Jato? Qual risco?

Não gosto de conversa oblíqua. Nunca gostei. Vamos ser claros? Janot, Moro, o delegado Adriano Anselmo estão é ocupando posições no tabuleiro político. Para quê? Para deixar claro que é bom que o futuro relator da Lava Jato seja um fiel servidor de suas respectivas vontades. Ou eles começam a gritar: “A Lava Jato está em risco…”. E a imprensa vai fazer o de sempre: “isco, isco, isco…”.

O Coelho do Bambi é hoje a personagem mais influente do Brasil. Só que, naquele caso, o incêndio existia…

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