Ainda que pareça assombroso, surpreendente não é. Até porque a estupidez, à direita e à esquerda, conspira, como sempre, em favor do desastre, não é mesmo?
No dia em que Marcelo Odebrecht depõe ao TSE e revela, segundo consta, que 80% dos recursos doados à campanha de Dilma em 2014 tiveram como origem o caixa dois; no dia em que esse mesmo empresário confirma que uma Medida Provisória enviada por Lula em 2009 era do interesse do grupo, o que gerou uma compensação depois na forma de recursos de campanha; bem, num dia assim, mais de 400 sedizentes intelectuais e artistas lançam um manifesto cobrando que Lula se declare desde já candidato à Presidência da República na eleição do ano que vem.
Também nada há de surpreendente nos nomes que encabeçam a inciativa: Chico Buarque, Leonardo Boff, o ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão, que é subprocurador da República, e o escritor Fernando Morais. Esses compõem a linha de frente. Mas, enquanto escrevo, leio no site “Congresso em foco” que outras 420 pessoas já aderiram ao troço. A lista segue no post anterior. E, é claro, o objetivo é buscar adesões. Milhares delas. Não será difícil a julgar pelos índices que o Babalorixá de Banânia exibe nas pesquisas eleitorais.
Está escrito o seguinte no glorioso manifesto. Leiam com atenção:
“Por que Lula?
É o compromisso com o Estado Democrático de Direito, com a defesa da soberania brasileira e de todos os direitos já conquistados pelo povo desse País, que nos faz, através desse documento, solicitar ao ex-Presidente Luiz Inácio LULA da Silva que considere a possibilidade de, desde já, lançar a sua candidatura à Presidência da República no próximo ano, como forma de garantir ao povo brasileiro a dignidade, o orgulho e a autonomia que perderam.
Foi um trabalhador, filho da pobreza nordestina, que assumiu, alguns anos atrás, a Presidência da República e deu significado substantivo e autêntico à democracia brasileira. Descobrimos, então, que não há democracia na fome, na ausência de participação política efetiva, sem educação e saúde de qualidade, sem habitação digna, enfim, sem inclusão social. Aprendemos que não é democrática a sociedade que separa seus cidadãos em diferentes categorias.
Por que Lula? Porque ainda é preciso incluir muita gente e reincluir aqueles que foram banidos outra vez; porque é fundamental para o futuro do Brasil assegurar a soberania sobre o pré-sal, suas terras, sua água, suas riquezas; porque o País deve voltar a ter um papel ativo no cenário internacional; porque é importante distribuir com todos os brasileiros aquilo que os brasileiros produzem. O Brasil precisa de Lula!”
Retomo
É claro que Lula tentaria reagir. O que a muitos surpreende é que essa reação seja tão rápida e tenha origem no eleitorado. Por que é assim? Porque a política se tornou a terra devastada. É nesse ambiente que um manifesto indigno como o que se lê acima vem à luz. Ali se defende, na prática, os governos que promoveram o maior assalto aos bens públicos de que se tem notícia. E daí? Segundo os ditos intelectuais e artistas, só Lula pode devolver ao “povo brasileiro a dignidade, o orgulho e a autonomia”.
Uma farsa como essa vai prosperar? Tomara que não! Ocorre que isso tudo, infelizmente, depende cada vez menos de fatores racionais. Tudo vai depender da devastação.
Enquanto isso, alguns inocentes imaginam que podem, parafraseando Drummond, tirar um “Trump do nariz”, assim como Manuel Bandeira tirava ouro. Ah, em tempo: no nosso sistema, Trump teria perdido a eleição.
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