Pingo Final: Mosquito é coisa de pobre da periferia
Escrevi aqui que o prefeito Fernando Haddad, aquele que gasta R$ 655 mil por quilômetro de ciclofaixa para ninguém — e o cálculo da VEJA São Paulo está certo, à diferença do que afirma o prefeito —, ignora os problemas de São Paulo, sua gente real, suas deficiências reais, sua geografia real, suas ruas reais, suas carências reais, para se comportar como o prefeito de uma Nova York ideal, de uma Amsterdã ideal, de uma Berlim ideal.
Batata! Segundo reportagem publicada pela Folha nesta sexta, “faltam carros para levar agentes de controle do Aedes aegypti, mosquito que transmite a dengue, às casas da zona norte de São Paulo, a mais afetada pela doença este ano”. O jornal informa que “a região amarga a maior taxa de incidência do município. São 4,9 casos para cada 100 mil habitantes, seguidos pelas zonas oeste (2,2), sul (1,9) e leste (0,6)”.
Apesar dos números alarmantes, os carros para os agentes que combatem o mosquito não chegaram. Deveriam ter sido entregues 80 veículos em janeiro, mas isso não aconteceu.
Há alguns dias, a Prefeitura teve uma ideia luminosa para justificar o aumento dos casos de dengue: a população estaria estocando água em razão da crise hídrica. Como a dita-cuja não se limita a São Paulo, seria preciso explicar por que o crescimento não se dá mesma escala em outros municípios.
Um agente de Pirituba diz à reportagem: “Na semana passada, mandaram dois carros. Somos 60 agentes”. Ah, sim: a dengue cresceu 171% em São Paulo em relação às quatro primeiras semanas de 2014. A prefeitura diz que novos veículos deverão chegar em 30 dias.
Mas eu confio em Haddad. Ele vai saber negociar com o mosquito. Até lá, ele terá pintado mais 8.737 quilômetros de faixas vermelhas nas ruas da cidade. Os R$ 655 mil por quilômetro de ciclofaixa dariam para comprar uns 20 veículos. Mas o ciclofaixismo não se importa com isso. Mosquito é coisa de pobre da periferia.
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.