Pingo Final: PMDB deixa o governo por aclamação nesta terça

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 29/03/2016 12h00
Brasília - O vice-presidente, Michel Temer, fala à imprensa ao deixar seu gabinete no Palácio do Planalto (Marcelo Camargo/Agência Brasil) Marcelo Camargo / Agência Brasil Michel Temer

Eis a primeira grande obra de Luiz Inácio Lula da Silva, ministro informal da Casa Civil e presidente de facto do Brasil: o PMDB decidiu desembarcar do governo por aclamação na reunião desta terça. Nem haverá o constrangimento de formar uma minoria.

A estratégia foi desenhada por Michel Temer, vice-presidente da República e presidente do PMDB, e por Renan Calheiros (AL), presidente do Senado. Depois que os diretórios de Minas e Rio, que são fortes e tinham um viés governista, cederam ao óbvio, chega ao fim a aliança.

Diante do insucesso da empreitada, restou ao Planalto liberar os petistas para subir o tom contra Temer, que passou a ser chamado abertamente de golpista.

Os ministros do PMDB foram dispensados de comparecer à reunião desta terça. É possível que ganhem um prazo, até a segunda semana de abril, para deixar o posto. Menos Henrique Eduardo Alves, do Turismo, que se antecipou e já entregou o cargo.

Outros partidos devem seguir a trilha dos peemedebistas. Na verdade, até já se anteciparam. O PSD, de Gilberto Kassab (ministro da Cidades), liberou seus parlamentares para que votem de acordo com a sua consciência. Rogério Rosso (PSD-DF), que preside a comissão especial do impeachment, é listado entre aqueles favoráveis à aceitação da denúncia.

O quadro é tão melancólico para o governo que o ministro Ricardo Berzoini fez uma reunião com líderes da base no Senado. Sabem quantos senadores apareceram? Cinco: três eram do PT, uma do PCdoB e um do PR. E ponto.

Humberto Costa (PT-PE), líder do governo no Senado, resolveu chamar Temer abertamente de golpista. Afirmou que ele será o próximo a ser deposto caso Dilma venha a cair. Até aí, diga o que quiser. Mas foi além: prometeu estar entre aqueles que iriam às ruas contra o sucessor de Dilma. José Guimarães (PT-CE), que exerce a liderança do governo na Câmara, também acusou Temer de estar no comando do golpe.

O vice reagiu com uma nota, divulgada, na verdade, pelo Diretório Nacional do partido, em que se lê:
“Ministros do STF já esclareceram reiteradamente essa questão: o Brasil vive plena normalidade institucional, e não há nenhum golpe em curso”. E ainda: “O vice-presidente Michel Temer não patrocina nenhuma ação ilegítima e age estritamente dentro da lei”.

No domingo, atuando como ministro informal da Casa Civil, Lula forçou um encontro com Temer, que deixou claro que não havia mais condições de o PMDB permanecer no governo. Mesmo assim, o ex-presidente botou uma gravata com as cores do Brasil e deitou falação para a imprensa internacional, expressando a convicção de que conseguiria atrair pelo menos uma fatia do partido.

Vai chegando ao fim essa ópera bufa do petismo, deixando atrás de si um país com a política em frangalhos e com, para dizer o mínimo, alguns arranhões institucionais.

Não há saída fácil. O governo Temer vai ter de enfrentar, entre outras dificuldades, a sabotagem dos petistas e de grupelhos de extrema esquerda. Mas é a chance que se abre de pôr um ponto final à loucura que se apoderou de Brasília.

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