Pingo Final: Postura do governo em relação às manifestações é um avanço, mas entendimento da crise ainda é precário

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 14/04/2015 14h36
Rodrigo Ramon/JP Confira as imagens das manifestações pelo Brasil

Meu pingo final vai para o ministro da Secom, Edinho Silva. Eu quero saber em qual a gente pode acreditar.

Há aquele que escreveu há três semanas uma carta aberta ao PT. Segundo disse, as manifestações eram coisa da “elite brasileira, insuflada por uma retomada das mobilizações da direita no continente”. Esse Edinho sustenta que as críticas ao governo derivam da ação de “entrincheirados” contra as “reformas estruturais”. Imodesto, acredita que seu partido detém o monopólio do “campo progressista e transformador”.

E há o Edinho ministro da Secom, responsável pela comunicação do governo. Esse decidiu ser bem mais razoável. E quase disse a coisa certa. Só não é inteiramente certa porque até exagerou na defesa do pluralismo. Afirmou:
“O governo encara com normalidade. Entendemos que, dentro de uma democracia, todas as manifestações são legítimas e expressam o sentimento democrático como o Brasil”.

Eu, por exemplo, não acho que “todas as manifestações são legítimas”, havendo aquelas que, além de ilegítimas, são também ilegais. Não reconheceria a legitimidade de grupos que saíssem às ruas defendendo, por exemplo, discriminação, preconceito ou segregação de qualquer natureza.

A postura, de qualquer modo, é um avanço em relação a março, quando o governo decidiu dar pito nos manifestantes e desqualificá-los. Mas será que o governo está realmente entendendo o que está acontecendo nas ruas?

Edinho afirmou ainda: “Nós entendemos que, desde junho de 2013, existe um questionamento do modelo político brasileiro, da organização, da forma como o poder político está organizado. Isso é importante e tem que ser considerado. Existe um descontentamento em relação às instituições”.

Está tudo errado. Em primeiro lugar, a pauta de junho de 2013 e a de agora são distintas. Em segundo lugar, os grupos que convocam as manifestações são distintos em tudo, a começar dos valores. Em terceiro lugar, por mais que se reconheça a necessidade de reformas, o descontentamento tem um foco: a roubalheira praticada no seio de órgãos oficiais e o que se entende ser tolerância, conivência, cumplicidade ou autoria do partido do poder: o PT.

Sim, a postura de agora é um avanço, mas o entendimento da crise é ainda extremamente precário.

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