Pingo Final: PSDB tem de participar do governo, diz FHC

  • Por Reinaldo Azevedo
  • 26/04/2016 09h33
Brasília - O ex-presidente da Fernando Henrique Cardoso fala à imprensa em reunião na sede da Executiva Nacional do PSDB (Valter Campanato/Agência Brasil) Valter Campanato/Agência Brasil Fernando Henrique Cardoso FHC

É evidente que não faz o menor sentido o PSDB garantir que vai dar apoio ao governo Michel Temer no Congresso, mas sem participar do governo. Poderia ser o pior de dois mundos: arcar com o ônus da governabilidade sem, no entanto, ter nenhum bônus. A menos, claro!, que esteja pensando em abandonar o barco no meio da viagem.

Em entrevista a Fabio Zanini e Natuza Nery, da Folha, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fala a coisa certa: “O PSDB tem responsabilidade política pelo que está acontecendo, porque apoiou o impeachment. Então não pode simplesmente dizer não entro [no governo]. Eu sou propenso a entrar desde que as condições sejam explicitadas. Entrar como partido, indicando nomes, porque a situação do Brasil é mais grave do que aparece.”

É isso. É claro que é preciso tratar de certas condições. Ainda que o PSDB tenha ajudado no processo de impeachment, é evidente que não estaria obrigado a integrar o novo governo se o programa de Michel Temer fosse completamente avesso ao seu. Mas sabemos que isso não é verdade. Nem mesmo é fato que Temer vá chegar à Presidência para executar os pontos do programa “Uma Ponte para o Futuro”, de caráter liberal.

Ele tem noção de que o seu é um governo de transição. Assim, cabe ao PSDB tratar de algumas precondições, sim, sempre sabendo, no entanto, que não será o titular da gestão. Agora, o que não pode fazer é deixar o vice na mão.

FHC pensa, como de hábito, com absoluta clareza. Leiam esta pergunta e esta resposta:
“Até que ponto pode atrapalhar o fato de Temer não ter a legitimidade de ter sido eleito como cabeça de chapa?”
Isso é um fato. Ele tem a legitimidade democrática, porque teve tantos votos quanto a Dilma, embora muitas pessoas não saibam. Agora, como é que ele pode ter legitimidade, ser aceito? É pela realização, é pelo que fizer. Depende, em grande medida, da capacidade que tem em aglutinar.

Na mosca! Sempre é bom quando alguém lembra que um vice-presidente também é eleito, ora bolas! E está legitimado pela democracia e pela Constituição.

A Folha também quis saber “se parece justo o impeachment de uma mulher honesta”. Bem, lembro que a mesma pergunta poderia ser feita sobre um homem honesto. Divirjo na essência da questão porque os crimes de responsabilidade, conforme o Artigo 85 da Constituição, nada têm a ver com honestidade pessoal. E a resposta de FHC foi boa:
“A Dilma não é criminosa. O processo é político. Com base jurídica, mas é político. Quando você perde a capacidade de agregar e de dar direção ao país, fica numa posição frágil. Infelizmente, o governo da presidente Dilma se desmilinguiu. Ela cometeu crime de responsabilidade fiscal e contra lei orçamentária, são ações concretas.”

A resposta encerra a questão e a falácia política com que os petistas tentaram engabelar os brasileiros e a opinião pública internacional.

Crime de responsabilidade nada tem a ver com honestidade pessoal. Isso na hipótese, claro!, de que as coisas sejam mesmo assim. É melhor esperar os desdobramentos da Lava-Jato.

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