Porque, mesmo difícil, vale a pena acreditar

  • Por Jovem Pan
  • 27/11/2014 11h49

Não raro, apesar de tudo, me perguntam o motivo de eu continuar a acreditar neste país.

E sempre porque o noticiário, as coisas que ainda dão muito errado no Brasil, a corrupção que arrasa orçamentos públicos, e também as expectativas do público, colocam todos nós pra baixo.

Mas há também motivos para se compreender o país e entender nossa sociedade de um modo muito positivo.

E para provar que vale a pena insistir, não vou recorrer aqui a nenhuma das maravilhas brasileiras já conhecidas e decantadas como nossas riquezas naturais, nosso potencial ou a beleza de nosso povo.

Não, nada disso. Aliás, do povo vou falar sim. Mas do começo da reação, do ativismo das pessoas que se vê por aí de forma e atitude raramente registradas na nossa história recente.

Vou ser mais claro e direto.

Na quinta-feira da semana passada, comentei sobre o caso do executivo da Mendes Junior que disse que só pagou propina ao doleiro Alberto Yousseff para não perder outros contratos com a Petrobrás.

A explicação do empresário, convenhamos, não se justificava. Ele poderia ter escolhido outro caminho que não o de se render ao criminoso modus operandi da quadrilha que comandava as contratações da maior estatal brasileira.

O máximo que poderia acontecer com ele, acaso não topasse ceder à extorsão, seria perder os contratos, mas salvaria a consciência.

Ele e muitos outros escolheram os contratos.

É desta consciência, preterida pelo empresário, que quero falar e que está ganhando corpo entre os brasileiros. Vários comentários sobre o assunto foram vistos pelas redes sociais, a maioria destacando a necessidade de se recuperar os valores morais e criticando as desculpas esfarrapadas de quem foi pego pela polícia.

Ou sejam a malfadada explicação não colou. O todo poderoso executivo ou funcionários do governo, antes aparentemente inatingíveis, estão pouco a pouco ficando na linha da justiça, cada vez mais horizontal.

As pessoas estão percebendo que a corrupção, os grandes e indecentes desvios de dinheiro público não são operados por marcianos ou estruturas inatingíveis.

São, sim, manobras feitas por gente. Gente que se parece com gente e que apenas detém o poder para corromper e ser corrompido.

Ou seja, a corrupção não é alienígena ou acontece apenas muito distante de todos nós. Aconteceu ali entre funcionários da Petrobrás, entre lobistas e doleiros, entre executivos e funcionários das empreiteiras, entre funcionários do governo, parlamentares e seus assessores que, em vez de denunciar, aceitou se envolver na roubalheira.

Percebem o que chamo de gente parecida com gente?

Porque é gente. E que vive por aí, que paga salários, que recebe salários, que mora no seu prédio ou no prédio um pouco mais distante. A prática desses crimes foi feita por mãos humanas e brasileiras.

Quem está sabotando o Brasil não são outros que não brasileiros mal-intencionados e de caráter indecente.

Cabe aos bem-intencionados e de caráter altruísta combaterem isso tudo por pelo menos duas razões:

A primeira é que a corrupção e a sabotagem deste país não acontecem necessariamente distante de nós. Pode estar muito próxima.

E, por fim, ou se juntam os bons e assumem o país ou os maus tomam conta de tudo.

E, já vimos, eles são bem organizados.

 

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