Prefeitura de SP: todos preservam Russomanno, que também não bate em ninguém
Assisti ao debate dos candidatos à Prefeitura de São Paulo, transmitido pela Band e mediado pelo jornalista Boris Casoy. O encontro serviu para revelar as estratégias de campanha. Ninguém viveu seu grande momento. O único que estava um pouco acima do tom, literalmente, era Major Olímpio, do SD, que, com seus 2%, segundo o mais recente Datafolha, resolveu carregar mais na retórica do que nas ideias, especialmente quando se referia ao petista Fernando Haddad, que tem 8%. Isso à parte, quase todos concordavam com os diagnósticos que os outros faziam.
Todos eles resolveram poupar Celso Russomanno (PRB), o líder nas pesquisas de opinião. Segundo o Datafolha, este tem 25% das intenções de voto. O próprio também se mostrou muito respeitoso com todos, procurando evitar crispações.
Preservado Russomanno, os demais trocaram farpas. O tucano João Doria, com 6%, era o único homem que não estava de terno e gravata. Vestia uma jaqueta sobre uma camisa e usava jeans e tênis. Os petistas, em especial, tentam colar nele a pecha de “coxinha” — num dado momento, Haddad acusou o adversário de pertencer à classe social que faz turismo na periferia. Ora, até parece que ele próprio é um filho da pobreza. Nem ele nem seu vice, Gabriel Chalita. De todo modo, ali estava, nos trajes, um Doria menos coxinha do que seus oponentes.
O tucano bateu no petista e na peemedebista, que tem 16%. Tratou-os como representantes de um mesmo grupo, lembrando que o agora prefeito foi subsecretário da peemedebista quando ela administrou a cidade. A ex-prefeita preferiu direcionar suas baterias contra o ex-aliado, mas evitou ao máximo o tom agressivo. Haddad procurou polemizar com os dois, mas foi contra Major Olímpio que viveu o seu pior momento. Este o acusou de pertencer ao partido do petrolão e lembrou que João Santana, que está em processo de delação premiada, foi seu marqueteiro.
Haddad respondeu que todos os grupos e corporações têm problemas e maus elementos. E sugeriu que as polícias Militar e Civil fazem corpo mole e deixam a droga chegar à Cracolândia. Olímpio percebeu o erro tático e avançou contra o prefeito, defendendo a honra dos policiais, o que forçou o petista a quase retirar o que disse.
Então ficamos assim. Por enquanto, os demais candidatos decidiram que só uma vaga está em disputa no primeiro turno: a do adversário de Russomanno. O candidato do PRB, por sua vez, fez ares de quem não quer briga com ninguém. Doria procurou esgrimir números e falar uma linguagem mais técnica, mas explorando, em particular, a impopularidade de Haddad, revelada em pesquisas.
Marta resolveu se mostrar a candidata mais experiente e está empenhada, visivelmente, em combater a fama de arrogante que ainda tem em certos nichos: provocada por Doria, que tentou associá-la à criação de taxas, ela admitiu o erro e se desculpou. Haddad voltou a investir na imagem do bom moço, quase a cobrar compreensão dos seus adversários. E tentou convencer a população de que faz, sim, uma gestão operosa na cidade.
Debates assim têm, pois, este propósito: expõem as armas que os candidatos escolheram para enfrentar seus adversários. E só. A menos que alguém diga uma grande bobagem ou dê um baita escorregão, tendem a interferir pouco na escolha da população.
Certamente a ordem de preferência, segundo a vontade dos eleitores, terminou como começou. Não houve razão para mudanças.
Para encerrar: é claro que acho um erro estratégico preservar Russomanno. A persistir a análise de que apenas uma vaga está em disputa, o confronto, bastante civilizado nesta segunda, acaba degenerando em carnificina entre os demais. E o outro assiste a tudo de camarote. Depois fica mais difícil convencer o eleitor no segundo turno de que o adversário não é a melhor escolha.
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