Presidente não tem relação feliz com os ovos; entenda

  • Por Jovem Pan
  • 14/10/2014 12h36

Reinaldo, quer dizer que Dilma não tem uma relação muito feliz com os ovos? Que história é essa?

É, não tem não. Ai, ai, vamos nos divertir um pouco. Os ovos voltaram a atormentar Dilma Rousseff. Há, sim, milhões de pessoas revoltadas com a roubalheira da Petrobras, mas o inconformismo nos corredores dos supermercados não é menor. A inflação rouba salário e agride também o minúsculo poder de compra de quem recebe Bolsa Família. Não é um problema dos ricos ― na verdade, estes são os únicos que conseguem se proteger. A inflação, em suma, é o pior imposto que existe contra os pobres. Um governo que flerte com ela pune quem menos tem.

Qual é o busílis? Na semana passada, diante dde uma nova elevação da inflação, o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, recomendou que a população substituísse a carne pelo frango e pelos ovos. Pegou mal.

A campanha de Aécio sentiu na frase cheiro de carne queimada e levou a questão para o horário eleitoral. Diante da sugestão de um açougueiro para que a dona de casa troque a carne pelos ovos, esta responde que prefere trocar o governo. Nesta segunda, Dilma teve de vir a público para dizer que não concorda com a sugestão de seu secretário. Não sei se a emenda não ficou pior do que o soneto. A presidente-candidata prometeu ainda que, se reeleita, tomará medidas duras contra a inflação. Não disse quais nem explicou por que não as toma agora ― afinal, ela já é, ou ainda é, presidente.

Coitada da Dilma. Ela não dá muita sorte com ovos. Em fevereiro de 2010, ainda ministra da Casa Civil, ela foi ao programa Superpop, de Luciana Gimenez, na Rede TV, e tentou fazer uma omelete, no que seria especialista. Ficou claro que nunca antes na sua história havia se dedicado àquele ofício. Produziu uma maçaroca hostil aos olhos e, suponho, ao paladar. Vocês encontram os vídeos no Youtube.

Em março de 2011, com a popularidade nos píncaros da desinformação, Dilma foi ao programa de Ana Maria Braga, na Globo, para fazer omelete. De novo. Deu errado outra vez. A sua experiência com a cozinha era tal que ela pegou bicarbonato de sódio, perguntou se era sal, a apresentadora se confundiu e disse que sim, a presidente mandou ver. Enfiou a mão no dito-cujo e não percebeu. O sal, como sabemos, mesmo refinado, é granulado. O bicarbonato é um pó. Mais uma vez, o produto de sua arte convidava o faminto à fuga. O primeiro homem que comeu a primeira ostra ― imaginem com que fome não estava ― fugiria das omeletes presidenciais.

Tomo essas relações infelizes entre Dilma e os ovos como metáfora de sua dificuldade de lidar com o Brasil real, que hoje parece contaminar o seu partido. Estão desarvorados e, acredito eu, fazendo bobagens até do seu ponto de vista.

Quando comentei o assunto em 2011, lembrei em meu blog que a famosa frase “Não se pode fazer omelete sem quebrar os ovos” não é do ditador soviético Stálin, que Dilma admirava tanto na juventude. Trata-se de uma crítica a ele feita por Nadejda Mándelstam, mulher do poeta Ossip Mándelstam, assassinado por ordem do ditador.

No livro em que trata da culinária do mega-homicida, ela afirma sobre o verdugo bigodudo: “Cada nova morte era justificada com a desculpa de que construíamos um notável mundo novo”. Vale dizer: o futuro (a omelete) pedia a “quebra dos ovos” (as mortes). Está na página 114 do livro “Stálin – A Corte do Czar Vermelho”, de Simon Sebag Montefiore.

Todo o suposto realismo do PT, que resultou em acordos com o que de pior a política produziu ao longo da história brasileira, partia deste princípio: não se faz omelete sem quebrar ovos ― ou seja, para conseguir certas coisas, seria preciso não olhar o tamanho do estrago. Nos programas de Luciana Gimenez e de Ana Maria Braga e no Brasil, Dilma quebrou os ovos, sim, mas não entregou a omelete.

A propósito: “omelete” é palavra francesa. Os puristas, em português, propõem que se evite o galicismo e defendem que a gente diga “omeleta”. Sei. A omeleta sem jeito da presidenta.

 

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