Programa de combate à Aids criado por Serra é agredido por militâncias políticas
Reinaldo, o Brasil caminha na contramão do mundo no que diz respeito à AIDS? Como se explica?
Sim, infelizmente caminha. Olá, internautas e amigos da Jovem Pan.
Um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) divulgado nesta quarta-feira demonstra que os casos de HIV no nosso país cresceram 11% entre 2005 e 2013, quando cerca de 42 000 pessoas contraíram o vírus no país. As mortes avançaram 7%. No mundo, no mesmo período, a queda da contaminação foi de 27,6%. O que acontece com a gente?
Não se controla a difusão de certas doenças só com medidas médicas. A profilaxia cultural e comportamental é tão ou mais importante. E, nesse particular, o Brasil tem uma política patética. O programa de combate à doença criado no país na gestão do então ministro da Saúde, José Serra, premiado internacionalmente e que serviu de modelo ao mundo é permanentemente agredido por militâncias políticas das mais variadas, com amplo apoio de setores da imprensa, que confundem informação com preconceito, orientação técnica com moralismo estreito.
Não se tem mais notícia de contaminação por HIV por transfusão de sangue. Por menos informações que tenham hoje as pessoas, contam-se nos dedos os que desconhecem o mecanismo básico de transmissão da doença, que, no Brasil, cresce mais entre os jovens de 15 a 24 anos ― curiosamente os que mais têm acesso à informação.
Quem são esses jovens? Quais são seus hábitos? Qual é a sua orientação sexual? Médicos que trabalham no Sistema Público de Saúde não teriam dúvidas em afirmar que parte importante é formada por homossexuais masculinos; outra parte relevante contraiu a doença compartilhando seringas. Isso quer dizer que essas pessoas escolheram ficar doentes? Claro que não. Seria um absurdo e uma estupidez afirmar isso. Mas isso quer dizer, também, que esses dados têm de ser levados em conta quando se formula uma política pública de saúde.
As campanhas oficiais contra a difusão da Aids estão essencialmente erradas. E não é de hoje. A camisinha segue sendo a principal barreira material contra a difusão do vírus. Mas ela é pouco eficaz quando não existe a barreira moral. E falo em moral em sentido amplo, que remete às escolhas pessoais ― não o moralismo estridente e de fachada. O estímulo ao sexo irresponsável, homo ou heterossexual, é uma das raízes da proliferação ainda brutal da doença.
Ainda me lembro de uma propaganda oficial do Ministério da Saúde em que dois rapazes se conhecem num bar. Na sequência, aparecem na cama. Um deles acorda e toma um susto. Só se tranquiliza quando vê no criado-mudo o invólucro rompido da camisinha. Pergunto: era campanha contra a Aids ou a favor do sexo irresponsável? Quem não consegue nem mesmo se lembrar se usou ou não o preservativo está mesmo protegido? Outra campanha do carnaval de 2012 repetiu o erro, aí com um casal heterossexual.
Não existe controle da Aids com estímulo ao pé-na-jaca. Há dois fatores patogênicos aí: o HIV, que a camisinha controla, e as escolhas individuais, que ou são responsáveis ou não são, pouco importa a orientação sexual de cada um.
Em 2013, ainda na gestão de Alexandre Padilha, o Ministério da Saúde elaborou um cartaz em homenagem a um tal “Dia Internacional da Prostituta”, que alguns comemoram no dia no dia 2 de junho. Uma senhora posa para a fotografia, com ar orgulhoso, ao lado da frase: “Eu sou feliz sendo prostituta”. No pé da peça publicitária, a logomarca do governo Dilma. Alguém acha que é por aí?
O cartaz acabou sendo recolhido pelo próprio governo, mas dá conta de uma espécie de cultura no ambiente em que o fez. Não duvidem, é mais difícil vencer uma distorção ideológica do que um vírus.
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