PSB quer alterar trecho de seu manifesto

  • Por Jovem Pan
  • 05/05/2014 11h21

Reinaldo, vamos voltar a Eduardo Campos, o Partido Socialista Brasileiro não quer mais ser socialista?

Não é bem isso. A Folha desta segunda informa que o coordenador de comunicação de pré-campanha de Eduardo Campos, o jornalista Alon Feuerwerker, enviou ao ex-governador um email indagando se há como alterar um trecho do manifesto do PSB que defende a socialização dos meios de produção e limites à propriedade privada. A reportagem do jornal flagrou a mensagem.

Alon confirma o envio do email e disse que estava apenas transmitindo uma mensagem que recebeu. Haveria uma campanha na internet, ou algo assim, dando destaque ao trecho, que estaria sendo usado para desgastar o partido.

Trata-se de um texto, atenção, de 1947. Lá se pode ler: “O objetivo do partido no terreno econômico é a transformação da estrutura da sociedade, incluída a gradual e progressiva socialização dos meios de produção, que procurará na medida em que as condições do país a exigirem”.

Não sei de onde parte a campanha, sempre que alguém resolve retirar uma bobagem como essa de um manifesto eu aplaudo. Mas isso não tem a menor importância. Justamente por isso, Alon tem razão em sugerir por meio de uma pergunta que o trecho seja suprimido. Dizer o que?

Em 1997 o trabalhista Tony Blair pôs fim a 18 anos de governo conservador na Inglaterra. Em 1995, na liderança do partido, ele extinguiu a famosa Cláusula 4, que havia sido redigida, atenção, em 1917, no ano da Revolução Russa, e que compunha o programa do partido desde 1918.

O trecho que me parece perfeitamente suprimível do manifesto do PSB, é praticamente uma versão em português da tal Cláusula do Partido Trabalhista, que defendia a propriedade coletiva dos meios de produção. Não sei de onde parte essa conversa na internet, mas sei a quem interessa fazer a política do medo, não é mesmo?

Campos foi governador de Pernambuco, não se pode dizer que seja um marxista fanático. Quanto ao socialismo, leiam o que diz o estatuto do PT, por exemplo: “O Partido dos Trabalhadores é uma associação voluntária de cidadãos e cidadãs que se propõe a lutar por democracia, pluralidade, solidariedade” e aí vai um monte de coisa, etc, etc, e termina assim: “Com o objetivo de construir o socialismo democrático”. Isso está no artigo primeiro do estatuto do PT, e vejo que fala até em socialismo democrático. Uma invenção que até hoje ninguém conseguiu trazer à luz.

E agora vejam o que diz a carta de princípio: “O PT afirma seu compromisso com a democracia plena, exercida diretamente pelas massas, pois não há socialismo sem democracia, nem democracia sem socialismo”.

Ora, chamar o PT de socialista, dado o significado dessa palavra, é um disparate. O partido é autoritário e estatizante, isso é coisa bem diferente. “Ah, é tudo a mesma coisa!”, poderia dizer alguém. Não é não, investir nessa confusão só cria estridência inútil, emburrece o debate e dá ouro para o bandido.

Ou o suporte que o partido tem tido ao longo dos anos da indústria e do setor financeiro deriva do seu amor pelo socialismo? Quando se lê errado um problemas a resposta será, necessariamente, errada. O PSB que suprima logo esse trecho e vamos cuidar de coisa séria.

 

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