PT não parece disposto em expulsar André Vargas; entenda

  • Por Jovem Pan
  • 11/04/2014 11h56

Reinaldo, a comissão nacional do PT não está disposta a expulsar o ainda deputado André Vargas, ao menos por enquanto. A gente deve estranhar isso?

É, não está disposta não, e não há nada de estranho nisso. E o próprio Vargas já deixou claro ao comando, como afirmei ontem aqui na Pan, que não pretende ser enxotado da legenda. Já lembrou que tem muitos serviços prestados à companheirada. Ele conhece os subterrâneos do partido. Em vez de pô-lo pra fora, o PT decidiu montar um grupo para ouvir as suas explicações e só então decidir se vai submetê-lo à Comissão de Ética da legenda.

Pensado bem, expulsar Vargas porque? Se seguirem por lá os costumes, ele pode ganhar uma condecoração, uma medalha de honra ao mérito partidário. Os patriotas que protagonizaram o mensalão estão onde? No partido, ora bolas. Delúbio Soares, por exemplo, foi expulso, no dia 22 de Outubro de 2005. No dia 29 de Abril de 2011 o diretório nacional aprovou a sua volta por ampla maioria, 60 a 15.

Houve uma festança de arromba. Sabem quem foi seu advogado de defesa na legenda, em favor do retorno? Ricardo Berzoine, atual ministro das Relações Institucionais.

Nos quase seis anos em que ficou oficialmente fora nunca se afastou de verdade. Gente como Delúbio e André Vargas encontram o seu lugar. O partido não perdoa é dissidência política, em qualquer tempo. Nesse caso, põe pra fora mesmo. Quem lida, digamos, de forma pouco ortodoxa com recursos públicos e privados sempre terá brilho. Só a turma do mensalão? Não.

Todo o grupo ligado ao escândalo dos aloprados, o tal falso dossiê que tentaram armar contra com o tucano José Serra na disputa pelo governo de São Paulo em 2006, continua na legenda. O presidente da sigla era o já citado Berzoine, ficou provado que sabia de tudo. Hoje é ministro.

Amilton Lacerda, o homem que carregava a mala de dinheiro para pagar a bandidagem, era braço direito de Aolísio Mercadante, que era o candidato petista ao Palácio dos Bandeirantes . Mercadante, também ministro, é hoje braço direito de Dima, daí a impressão correta de que ela tem dois braços, esquerdos. Nos Estados Unidos, por exemplo, estariam fora da política para sempre. Por aqui são ministros de Estado.

A tal comissão petista, formada por três membros da direção, vai ouvir as explicações de Vargas sobre, como chamou Rui Falcão, “fatos noticiados que por si só não incriminam ninguém”. Ora, claro que não. Quando Yousseff diz ao deputado que se a tramoia no Ministério da Saúde der certo ele via fazer a independência financeira, o doleiro estava prevendo que o petista iria ganhar na Mega-Sena. Não deixava de ser.

O contrato que a Labogen estava para fazer com o Ministério, comandado então por Alexandre Padilha, chegava a 150 milhões de reais. Segundo apurou a Veja, noventa milhões até poderiam virar de fato remédio. 60 milhões eram, como direi, lucro. É uma Mega-Sena diferente.

O que foi que o DEM fez mesmo com Demóstenes Torres? Não esperou sua renúncia, ou como se deu a cassação de mandato, expulsou-o. No petismo, desde sempre a lógica é diferente. Há a possibilidade de os mal feitores ganharem o epíteto de guerreiros e heróis do povo brasileiro, a exemplo de Delúbio Soares e José Dirceu. No partido, Vargas pode ter esperanças.

Para encerrar. No caso de Demóstenes, a OAB cobrou rapidinho a renúncia ou a cassação de mandato. No caso de Vargas, creio que o conselho está reunido para tentar entender o que quer dizer “independência financeira”.

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.