Putin aposta na TV e enfrenta oposição nas redes

  • Por Caio Blinder/Jovem Pan Nova Iorque
  • 29/03/2017 08h42
FET32 MOSCÚ (RUSIA), 28/03/2017.- El presidente de Rusia, Vladímir Putin durante una rueda de prensa cojunta con su homólogo de Irán, Hasan Rohaní (no en la imagen) tras su encuentro en el Kremlin, Rusia hoy 28 de marzo de 2017. EFE/Sergei Karpukhin **POOL** EFE/Sergei Karpukhin EFE - Presidente da Rússia

Como falei na terça-feira, já sabemos que corrupção mobiliza a população indignada em Seul, em São Paulo e na Sibéria. Sigo com o assunto desta mobilização na Rússia. E no país sob a quase ditadura de Vladimir Putin, é preciso saber escolher as ferramentas para a mobilização, como aconteceu nos protestos de domingo, acima das expectativas.

Ferramentas podem ser faca de dois gumes. Basta ver a esperteza de Donald Trump que na sua arenga populista recorre tanto à velha televisão como ao Twitter. Uma pena para Putin que a camaradagem com o presidente americano pelo qual ele trabalhou para ser eleito não possa ser tão íntima como gostaria para aprender algumas malandragens, não que o presidente russo seja bobo.

Putin magnetiza a massa e exerce o controle social com este veículo tradicional que é a televisão. Ela não apenas faz propaganda, como silencia sobre os fatos inconvenientes. No domingo, a Rossiya 24, uma espécie de CNN russa, noticiava sobre a decisão ucraniana de vetar uma cantora russa no próximo concurso Eurovisão, um tiroteio num clube noturno de Cincinnatti, nos EUA, e uma erupção vulcânica. Nada sobre a erupção contra a corrupção e contra o regime Putin em mais de 90 cidades russas.

O modo de operação de Putin (que obviamente também recorre à intimidação e ao fervor nacionalista) contrasta com o de Alexei Navalny, o mentor dos protestos de domingo e que cimentou seu papel como líder da fragmentada oposição russa. Antes de tudo, denunciar a corrupção governamental se revela como um catalisador mais potente para a mobilização do que direitos civis.

Nada como mostrar que o primeiro-ministro Dmitry Medvedev comprou uma vinícola na Itália com grana de oligarcas ou gasta dinheiro para construir uma casa para patos no laguinho em uma de suas mansões enquanto cai a renda da população.

Mas o essencial é como mostrar. E Navalny, que já foi blogueiro, deu um salto para produtor de vídeos no YouTube, onde detalha a corrupção oficial. A produção de 49 minutos sobre os gastos e estilo de vida de Mdevedev já teve 13 milhões de visualizações.

Nos protestos de rua estava a geração Putin, jovens que só conhecem os 17 anos de czarismo do dirigente. São jovens que não dão atenção para as fake news e propaganda das televisões a serviço do Kremlin. Eles se informam nas redes sociais.

E a agitprop oficial tomou nota. Um jornaleco pró-Putin, chamado LifeNews, publicou o texto com o título “Adeus, televisão”, reconhecendo que o veículo “fracassou” e que sua ineficiência como “agitador de massa e organizador apenas irá se intensificar”.

No entanto, será que os temores de Putin devem se intensificar? Eu já disse que 2017, ano do centenário da revolução russa, pode ser interessante. Os protestos acima da conta e o estilo Navalny oferecem um senso de possibilidade.

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