Quando o incerto parece melhor que o já conhecido

  • Por Caio Blinder/ JP Nova Iorque
  • 18/04/2016 12h10
EFE/Fernando Bizerra Jr. EFE - Presidente Dilma Rousseff durante ato "em defesa da democracia" com estudantes no Palácio do Planalto

Brasil é manchete global com a tensão, o desfecho, a celebração e a ansiedade do que vem pela frente agora que o processo de impeachment de Dilma Rousseff foi aprovado na Câmara.

Vamos começar com o New York Times, o jornal mais influente do mundo. Tem uma boa medida da enormidade da crise do Brasil. Seu artigo principal postado assim que saiu o resultado da votação no domingo à noite enfatiza que Dilma, a primeira presidente mulher do país, está comprimida por um estonteante escândalo de corrupção, uma economia que encolhe e a desilusão que se espalha.

O New York Times, como é moeda corrente no quem é quem da imprensa global, trata o governo Dilma como massa falida, mas questiona a validade do processo de impeachment.

O jornal dá voz a acadêmicos e analistas. A professora da universidade britânica de Oxford, Rosana Pinheiro Machado, ressalta vagamente que as consequências do voto de domingo são imprevisíveis e que a única certeza é que o Brasil não será o mesmo.

Christopher Garman, da influente consultoria de risco Eurasia, diz que no final das contas o impeachment foi um voto sobre uma maciça investigação de corrupção e uma profunda recessão. A rádio pública americana, a NPR, segue a linha de que a indignação popular sobre corrupção apenas prosperou devido às vacas magras na economia. Em tom condescendente, observa que existe muita tolerância com falcatruas políticas no Brasil. Eu pessoalmente estou numa fase menos cínica. Vamos ver quanto tempo ela dura.

Em tom dramático, o Washington Post avalia que o impeachment é uma batalha ideológica sobre a alma política do Brasil. O Wall Street Journal, um jornal mais conservador que o New York Times e Washington Post, observa que o impeachment traz riscos e representa um sério teste para a democracia no Brasil. Pessoalmente, eu digo que a democracia vai bem no Brasil e o processo de impeachment fez parte desta democracia. O resto de fato segue muito incerto .

Este aliás tem sido o tom da cobertura do sempre atento Financial Times, para o qual o impeachment na Câmara conduz o Brasil para um território desconhecido, Mas eu rebato: e ficar no território conhecido era melhor?

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