Quem impede o impeachment de Dilma não é o PSDB, mas o PMDB

  • Por Jovem Pan
  • 18/08/2015 14h28
Agência Brasil Aloysio Nunes Ferreira

O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) fez um anúncio no Senado nesta segunda-feira que nem deveria gerar tanto barulho se não houvesse uma estranha concepção em certos setores, segundo a qual há algo de estranho quando um partido de oposição faz… oposição. Nunes anunciou que, se o processo de impeachment caminhar na Câmara, os tucanos votarão a favor. Ocorre que a notícia não é essa. Já chego lá.

Cabe a pergunta: poderia ser diferente? Esperavam que o senador dissesse o quê? Mas há base jurídica para tanto? Ele afirmou: “Na minha opinião, a base jurídica existe e está absolutamente configurada. Há a afronta à lei de responsabilidade fiscal, com as pedaladas, e ela [Dilma] não afastou aqueles que vinham cometendo toda a corrupção na Petrobras”.

Noto: o impeachment é basicamente um juízo de natureza política, mas que tem de estar assentado, para que não caracterize o simples confronto, em bases jurídicas. E vocês sabem que eu avalio que estas existem há muito tempo. E de várias naturezas.

A Câmara não precisa ficar indagando se a pedalada foi dada antes do atual mandato; se os rolos da Petrobras ocorreram na primeira gestão de Dilma ou na segunda. Nunca é demais lembrar: a Casa aceitou a denúncia contra Collor, ele renunciou, a questão chegou ao Senado mesmo quando não era mais presidente e, ainda assim, foi simbolicamente condenado. Tudo verdade: mas o Supremo o absolveu. Há uma distinção entre o processo de natureza política e o processo de natureza penal. Adiante.

É preciso entender a intervenção do senador paulista. É menos notícia na sua fala a afirmação de que o PSDB votaria a favor do impeachment do que outra declaração, a saber:
“Existe ação a favor do governo no Congresso Nacional, de modo que as condições políticas para o impeachment ainda não estão reunidas. Mas, se o presidente da Câmara der andamento ao processo [de impeachment], o PSDB votará a favor”.

Ah, sim: agora chegamos ao ponto. Cunha é hoje um opositor do governo e, quero crer, não teria dificuldades, vamos dizer, políticas ou sentimentais de fazer avançar um processo de impedimento. Ocorre que ele sabe muito bem que, hoje, não haveria os 342 votos. E a fala de Nunes agora ganha o alvo certo: quem impede o impeachment de Dilma não é o PSDB, obviamente, mas o PMDB.

O senador criticou ainda a atuação de Michel Temer, vice-presidente e coordenador político do governo, que estaria empenhado em distribuir cargos para impedir o avanço do um eventual processo de impedimento.

O senador paulista expressou a convicção de que o governo não tem mais como se recuperar e se referiu à mudança de opinião de alguns empresários, que passaram a considerar, de modo equivocado, segundo ele, que a eventual queda de Dilma custaria mais ao país do que se ela ficasse. Afirmou ainda: “Se o empresariado, especialmente o empresariado do setor das comunicações, entender que o custo da permanência da presidente é maior do que o custo da sua saída, o PMDB desembarca [do governo]”.

Parece que Aloysio está dizendo que o “empresariado do setor de comunicação” decidiu conter a rebeldia do PMDB, não é?, especialmente daquele pedaço que decidiu se juntar a Renan Calheiros, o novo condestável da República. Esse entendimento, como sabem, é parte do “acordão” da semana passada — o acordão que exclui as ruas e a esmagadora maioria dos brasileiros.

A síntese é a seguinte: Aloysio deixou claro que o impeachment de Dilma não depende do PSDB, mas do PMDB. Sozinhos, claro, os dois partidos não formam 342 votos. Outras legendas seriam atraídas pelos grandes por gravidade.

E, sim: de todas as possibilidades, não tenho dúvida de que a permanência de Dilma é a mais cara.

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