Querem Temer na guilhotina. Ou: “Não tem pão? Comam cabeças”
Mais um vazamento veio a público, agora da delação de Márcio Faria, um dos 77 executivos ou ex-executivos da Odebrecht que fizeram acordo de delação premiada. Também este, a exemplo das narrativas atribuídas a Marcelo Odebrecht e Cláudio Melo Filho, tem como alvo o presidente da República, Michel Temer. Sim, é preciso ficar atento para este aspecto: as coisas vêm em ondas. E a onda do momento se joga contra o presidente da República. Embora seja óbvio, não custa repetir: não é à imprensa que cabe guardar sigilo. Tem de publicar o que tem.
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Segundo Faria, reunião no escritório político de Temer, em 2010, acertou a doação de recursos da Odebrecht ao PMDB em troca de facilidades para a empreiteira na Petrobras. João Augusto Henriques, lobista que atuava em favor do PMDB na empresa, esteve presente. Por intermédio da assessoria, o agora presidente confirma que o encontro aconteceu, mas diz não ter tratado de doação a seu partido e ter recebido aquelas pessoas a pedido de Eduardo Cunha. Por falar no ex-deputado, nas perguntas que dirigiu a Temer, a quem indicou como testemunha de defesa, ele fez alusão a esse encontro. Sergio Moro ignorou a questão porque, como lembrou, não tem competência para investigar o presidente da República.
Temer enviou uma carta pública ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmando que os vazamentos de pré-delações, que estão no âmbito de acordos que nem foram ainda homologados pela Justiça, criam turbulências políticas e econômicas. Bem, é claro que criam. Reitere-se: não é a investigação em si, mas o uso que se faz dela.
Depois daquele documento, já houve mais dois vazamentos em que seu nome é citado.
Bem, é inequívoco que o presidente é a bola da vez. Ele vira a personagem central dos vazamentos num momento em que, à esquerda e à direta, com uma irresponsabilidade ímpar, fala-se abertamente em eleições diretas, como se, de tal arranjo, de constitucionalidade manca, pudesse sair algo de positivo para o país.
E que se note: não estou pedindo impunidade para Temer ou para qualquer outro para evitar crises políticas. Apenas que se cumpram os devidos rituais de delação, homologação, oferecimento da denúncia se for o caso — a rotina, enfim, de um estado democrático e de direito —, enquanto o país que não é Lava Jato nem delegacia de polícia vai sendo governado.
Afinal, precisamos punir os corruptos e precisamos de emprego.
Precisamos punir os corruptos e precisamos de crescimento econômico.
Precisamos punir os corruptos e precisamos de investimentos.
Precisamos punir os corruptos e precisamos de saúde, educação e segurança.
Se cada esfera do poder público cumprir a sua parte, há futuro. E não precisaremos entregar cabeças quando os pobres pedirem pão.
Parece-me uma boa ideia.
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