Rachel Sheherazade: Dilma se mostra incoerência em posição sobre liberdade de imprensa
O ataque de ontem à sede do Charlie Hebdo não foi o primeiro. Em 2011, após publicar caricaturas do profeta Maomé e de líderes muçulmanos, o jornal francês foi alvo de um incêndio criminoso.
Antes de sua última edição, os jornalistas do Hebdo pressentiam o pior. O cartunista Stéphane Charbonnier, um dos 12 mortos no atentado de ontem, tinha acabado de publicar seu último desenho, com a seguinte frase: “Ainda não houve atentados na França”. Na charge, a afirmação é respondida por um extremista armado: “Espere! Temos até o final de janeiro para fazer nossos votos”.
A premonição se cumpriu.
O mundo civilizado condenou o ataque terrorista ao jornal francês. Líderes mundiais o classificaram como um atentado à livre expressão e à liberdade de imprensa.
Até mesmo a presidente Dilma, que costuma ter mais tolerância com terroristas, sugerindo até o diálogo com grupos extremistas, desta vez não teve saída senão, concordar com a lucidez dos demais líderes.
Nossa presidente foi até sensata e afirmou em nota:
“Esse ato de barbárie é um inaceitável ataque a um valor fundamental das sociedades democráticas – a liberdade de imprensa.”
Apesar de prudente em suas palavras, Dilma não foi coerente.
A mesma mandatária que defendeu a liberdade de expressão na França, apóia um projeto de regulação da mídia no Brasil, que pode restringir a liberdade de expressão e até evoluir para uma futura censura dos meios de comunicação.
Não é fácil ser jornalista no Brasil. Ameaças, chantagens, assassinatos… Pesquisa de uma ONG ligada às nações Unidas classificou o país como o nono mais perigoso para a atividade jornalística em todo mundo.
Aqui, quem fala ou escreve o que não está no script corre sérios riscos de ser neutralizado. Para se preservar, muitos jornalistas aderem à auto-censura, preferindo calar a denunciar, rezar a cartilha dos poderosos a se voltar contra eles.
Há poucos veículos resistentes e independentes. É o caso da revista Veja, que, às vésperas da eleição publicou uma corajosa matéria denunciando a suposta ligação da então candidata Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula com o escândalo do petrolão.
Pela ousadia de informar seus leitores, a editora Abril pagou um alto preço. Teve a sede atacada por vândalos, num sinal claríssimo de intimidação à liberdade de expressão.
No Brasil, o maior temor da imprensa livre não são os radicais islâmicos, mas os radicais da esquerda.
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