Michel Temer e o governo federal agiram com a devida rapidez no caso da carne. O presidente reuniu no Palácio do Planalto, neste domingo, 33 embaixadores dos países que mais importam o produto para assegurar a excelência do setor e a eficiência do Sistema de Inspeção Federal. Não ficou só na retórica. Ele destacou que os 21 estabelecimentos que foram submetidos à investigação entrarão num regime especial de fiscalização.
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O presidente disse o óbvio: os casos apontados, ainda que verdadeiros, são marginais, pequenos, quando comparados com o volume exportado pelo país. Só ano passado, foram 4,384 milhões de toneladas de franco, 1,4 milhão de toneladas de carne bovina e 732,9 mil toneladas de suína. Mais: não fosse a fiscalização federal, que é considerada eficiente — e isso não quer dizer que inexistam problemas ou que eventuais bandidos não devam ser punidos —, seria preciso supor que os respectivos sistemas de avaliação de Estados Unidos, União Europeia ou China permitem a entrada, nessas áreas, de carne podre, misturada a papelão e contaminada por produtos cancerígenos.
A estrela da reunião foi Blairo Maggi, ministro da Agricultura. Ele disse ter perguntado a Leandro Daiello, superintendente da PF, por que o Ministério da Agricultura não foi informado sobre a investigação e a operação para poder, inclusive, fornecer elementos técnicos. E ouviu como resposta que, como havia fiscais suspeitos que, em última instância, pertencem à pasta, haveria risco de vazamento.
A desculpa vale uma moeda furada de R$ 3. A investigação, consta, está em curso há dois anos. De posse de todos os dados, não havendo nenhuma suspeita sobre a cúpula da atual equipe da Agricultura ou das anteriores, só uma coisa explica o comportamento doidivanas da PF, em especial o do delegado Maurício Moscardi Grillo, aquele que afirmou que os frigoríficos estavam usando produtos cancerígenos. Que coisa é essa? Arrogância, complexo de Deus, certeza de que sua função, como diria Rodrigo Janot, é “depurar o Brasil”. Não é um mal que atinja apenas esse profissional. Ainda volto a esse tema em outro post.
Com didatismo, serenidade, ponderação, o ministro repôs algumas verdades sobre uso de cabeça de porco (não é proibido); a tal mistura de papelão, que nunca existiu — a gravação refere-se a embalagens; o uso permitido de ácidos sórbico e ascórbico, que cancerígenos não são. Isso quer dizer que inexistam problemas no setor? Não! Há indícios de que alguns larápios estão se aproveitando? Parece que sim! Mas daí a ser um problema que afeta uma área em que o país dispõe de tecnologia de ponta e de critérios entre os mais severos do mundo, bem, vai uma distância gigantesca.
Manchete
Vejam a manchete do “Correio Braziliense” de domingo, o jornal que circula na cidade em que ficam as embaixadas: “Carne podre põe governo e consumidores em alerta”. Bem, é chato perguntar, mas lá vou eu: onde está a carne podre?
A coisa é tão patética que uma das evidências do que seria um escândalo de proporções pantagruélicas é o fato de fiscais ganharem um pacote de frango dos frigoríficos. Numa das conversas, eles reclamam do que consideram baixa qualidade da carne. Um deles diz até que deu o presente para a cunhada. Mas nada sugere que seja produto impróprio para consumo humano. E, claro!, eles não deveriam ter recebido franguinho nenhum! A pergunta é outra: esse caso merece ilustrar uma denúncia que pode quebrar as pernas do país?
Churrascaria
Depois do encontro, Temer convidou os presentes para jantar numa churrascaria. A Folha informa que 19 embaixadores e oito representantes comerciais aceitaram o convite. O presidente comeu alcatra, fraldinha, linguiça, cordeiro e picanha. Perguntou ao funcionário do estabelecimento a origem da carne. Foi-lhe assegurado que eram carnes brasileiras.
É claro que a simples negativa do governo, evidenciando todos os absurdos, não basta. O país vai ter de se desdobrar para tentar corrigir a ação irresponsável da Polícia Federal. Ou quem vai pagar o pato, é evidente, são os brasileiros.
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