Renan, investigado em seis inquéritos, comemora decisão do Supremo

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 18/12/2015 08h18
Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil Renan Calheiros (PMDB) colocou o tema em pauta após conversar com governadores

Já escrevi aqui certa feita que não sou esquerdista porque rejeito suas postulações teóricas e seu horizonte utópico. Mas não só isso. Rejeito também a sua falta de vergonha na cara. Nesta quarta, os vermelhos do nariz marrom foram para as ruas para gritar “Fica Dilma” e “Fora Cunha”, certo? Eles acham que a moralidade do presidente da Câmara é incompatível com a decência companheira. Pois é… Nesta quinta, Dilma almoçou com Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, que se considera um dos grandes vitoriosos com a decisão tomada pelo Supremo nesta quinta.

Ora vejam que coisa! Renan é investigado em nada menos do que seis inquéritos na Lava Jato. Por mais que Rodrigo Janot gostasse de deixá-lo inteiramente fora da confusão, não há como. Os delatores premiados insistem em dizer que o senador, por meio de prepostos, recebeu propina do petrolão.

Nestor Cerveró teve a sua delação premiada homologada pelo Supremo. Ele repetiu a acusação já feita por Fernando Baiano e afirmou ter pagado, sim, propina ao agora presidente do Senado — e também para Jader Barbalho (PMDB-PA), outro governista radical, e Delcídio do Amaral (PT-MS).

Que coisa, né? Rodrigo Janot poderia tentar nos explicar por que a investigação contra Cunha avançou com tanta celeridade, e a de Renan está empacada. Enquanto é preservado pelo procurador-geral, que não se atreve nem mesmo a oferecer uma denúncia contra ele, o valente senador almoça com a presidente, conspira contra o vice-presidente e ainda tenta jogar o PMDB no colo do Planalto.

Ora, um jogo em que Renan é conviva de almoço da presidente para livrá-la do impeachment significa o quê? Já sintetizei aqui: ele se oferece para ser o esbirro dela na certeza de que, se ela fica no cargo, passa a ser o esbirro dele.

O que a evidência dos fatos escancara? Político que decide se opor ao Planalto quebra a cara na Procuradoria-Geral da República, e os que fazem a genuflexão se dão bem. O próprio Renan estava na categoria dos muito enrolados no início da Lava Jato. Depois que passou a ser um fiel escudeiro do Palácio, sentiu o perigo se afastar.

Maioria simples

Imaginem… O Senado terá a palavra final sobre a instauração ou não do processo. É maioria simples: metade mais um dos presentes desde que haja metade mais um do total na sessão.

Se houver 42 senadores no dia em que se votar a questão, bastarão 22 para abrir o processo. Se, no entanto, houver 70, aí seriam necessários 36.

Se não for abatido pela Lava Jato — por enquanto, não parece que será —, Renan vai tentar fazer trabalho de sua vida: manter Dilma no poder na suposição de que ela mexerá os pauzinhos para preservá-lo.

Eis as trocas éticas do governo Dilma.

Ah, sim, Renan Comemorou:
“Não é a minha tese. É a Constituição. O Supremo fez a mesma leitura que tivemos em outros impeachments, com relação aos procedimentos. Não havia nenhuma dúvida em relação a isso. É o seguinte: vivemos no Brasil o bicameralismo. Você não pode afastar um presidente da República a partir da decisão de uma Câmara [Câmara dos Deputados] sem ouvir a outra Câmara [Senado]. Na prática, não seria o bicameralismo. Seria predominância de uma Casa sobre a outra”.

Parece razoável o que diz, mas é só lambança. Afinal, o julgamento cabe ao Senado. Fosse como ele fala, então caberia à Câmara também julgar.

É o fim da picada.

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.