Renata, viúva de Eduardo Campos, deve recusar vaga de vice de Marina

  • Por Jovem Pan
  • 19/08/2014 11h36

Reinaldo, então Renata, a mulher de Eduardo Campos, deve recusar a vaga de vice de Marina Silva?

Tudo indica que vai recusar. Enquanto comento ao menos, que Renata Campos deve alegar que a sua prioridade, no momento, são os cinco filhos, um deles, Miguel, ainda um bebê de colo. Se a razão e o bom senso se divorciaram da cabeça dos líderes do PSB, parece que Renata ao menos não perdeu o juízo.

Toda a história é estapafúrdia. Consta que o presidente do PSB, o lulista Roberto Amaral, conversou com Renata nesta segunda para pedir o seu aval para fazer de Marina Silva a candidata. Aval de Renata? Por quê? Viúva é parente, claro, mas não é autoridade partidária. Às vezes, fico com a impressão de que o PSB funciona como o Partido Comunista da Coreia do Norte, que inventou o socialismo hereditário. Mais um pouco, e o primogênito de Eduardo Campos será promovido de príncipe herdeiro a novo rei do PSB. Não sabia que se havia fundando uma monarquia em Pernambuco.

Deus do Céu, será preciso recuperar, acho, as gloriosas tradições pernambucanas, não é mesmo? O Estado foi palco da “Revolta Praieira” ou “Insurreição Praieira”, entre 1848 e 1850, de caráter liberal. Uma quadrinha popular se tornou famosa, ironizando a família mais poderosa, então, da terra: os Cavalcantis. Era assim:

“Quem viver em Pernambuco

não há de estar enganado:

Que, ou há de ser Cavalcanti,

ou há de ser cavalgado.”

Em tempos recentes, não se tem notícia de entes familiares herdarem o poder partidário dos que morreram. Antonio Campos, irmão de Eduardo, afirmou sobre a cunhada: “Se decidir, tem o nosso apoio”.

É mesmo uma coisa fabulosa. O ex-governador de Pernambuco vinha enfrentando, como é sabido, dificuldades eleitorais severas em seu próprio Estado. Na mais recente pesquisa Datafolha, seu candidato ao governo, Paulo Câmara, ex-secretário da Fazenda, apareceu com apenas 13% dos votos. Armando Monteiro, do PTB, que disputa com o apoio do PT, marcou 47%.

Vale dizer: as coisas andavam difíceis na sua própria terra. Pernambuco é também um dos poucos estados que têm um candidato do PT disputando a liderança para o Senado: João Paulo, com 43% dos votos. Fernando Bezerra, o nome dos Campos, tem apenas 16%.

Isso significa que, se Renata está mesmo disposta a manter a sua militância política, tem um trabalho enorme a fazer na sua própria terra. Imaginar que possa ser vice de Marina porque, afinal, seu marido era o comandante da sigla é um despropósito.

Acompanhada dos filhos, ela fez um pronunciamento político nesta segunda e disse que vai trabalhar “por dois” na eleição. Tudo indica que se referia às disputas locais. Vamos ver. Há um cheirinho de uma crise, com risco de dissolução do PSB em futuro nem tão distante.

Seja lá qual for o desempenho de Marina nas urnas, não parece que o partido vá conseguir resistir. Digamos que ela se eleja: a líder da Rede já está de malas prontas para migrar para o seu próprio partido. Ainda que não se sagre presidente, terá uma votação maior do que teria Campos: quantos a seguirão? Quem manterá unida a sigla, que tem, sim, um sotaque de esquerda, mas que, como se vê, era controlado por uma espécie de neocoronelismo urbano?

As conjecturas que se seguiram à morte de Campos não deixam a menor dúvida: ali decidem os Cavalcantis.

 

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.