Todos os movimentos políticos, de caráter revolucionário ou reformista, têm sempre de lidar com dois grupos de pessoas relativamente perigosos, que atuam em parceria: os oportunistas e os idiotas — sendo estes, obviamente, manipulados por aqueles. E é claro que estão em todos os lados da porfia: à direita, à esquerda, centro, acima, abaixo. Idiotas e malandros são tipos universais.
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Os oportunistas enxergam na luta política só uma maneira de obter vantagens, e os idiotas atuam sem levar em conta ações táticas e escolhas estratégicas. Como não têm um diagnóstico da realidade — vale dizer: não entendem o que está em curso —, o seu prognóstico apela ao irrealizável. Está dada a questão de fundo. Agora vamos ao ponto: esquerdistas dos mais variados matizes, neste momento, cavalgam a direita xucra e tentam encontrar o caminho da volta ao poder. É claro que eu explico. Mas, antes, é preciso complicar mais um pouco.
Por que Dilma foi deposta?
Para que o leitor não se perca em devaneios, é preciso que dê a si mesmo uma resposta — se é que está entre aqueles que defenderam o impeachment de Dilma e foram às ruas. Se aquele que me lê agora é um esquerdista, dispensa-se o exame de consciência: basta continuar cavalgando a direita xucra.
Sim, eu era favorável ao impeachment. Era a opinião de um cidadão. Está documentado, fui o primeiro jornalista da grande imprensa a sustentar que Dilma tinha um encontro marcado com a deposição. Eu o fiz num vídeo para a Jovem Pan antes da reeleição de 2014. E por que eu quis o impeachment? Bem, do ponto de vista jurídico, porque a então presidente cometeu crime de responsabilidade. Do ponto de vista político, porque estava conduzindo o país à ruína econômica. E que papel jogou aí a corrupção? Vamos ver.
O PT de 2016 não era mais corrupto do que o de 2005. Aliás, em razão das investigações já em curso, deveria ser até menos. Naquele ano, quando explodiu o mensalão, será que uma denúncia contra o presidente Lula teria recebido o apoio de dois terços da Câmara? Resposta: não! Com a economia em crescimento e com as camadas populares razoavelmente satisfeitas com o governo — tanto é que Lula se reelege com facilidade em 2006 —, uma proposta assim teria sido rechaçada. A esmagadora maioria deu de ombros para a corrupção, eis a verdade, e escolheu o que considerava ser a estabilidade, com ampliação de benefícios sociais. Pobres daqueles que ousavam dizer, como fazia certo Reinaldo Azevedo: “Esse modelo vai nos conduzir ao colapso”. Vinha porrada de todo lado!
Eu queria o PT fora do poder em razão dos seus corruptos? Também. Mas fosse esse o critério exclusivo, seria o caso de propor a extinção do Estado. A corrupção é um dos elementos que me fazem ser vigilante contra qualquer partido, mas eu quis o impeachment de Dilma porque: – ela cometeu crime de responsabilidade; – ela conduzia o país à ruína econômica; – O PT, esquerdista que é em essência, assaltava também a institucionalidade, não apenas os cofres.
ATENÇÃO PARA ISTO: O PARTIDO QUE LEVOU DILMA ROUSSEFF A COMETER CRIME DE RESPONSABILIDADE — E SÓ POR ISSO ELA CAIU — NÃO FOI o PT LADRÃO DO CAIXA, MAS O PT LADRÃO DE INSTITUIÇÕES.
Ora bolas! Eu não me opus e não me oponho ao PT só porque a Lava Jato revelou que aquilo era um valhacouto. Criei o termo “petralhas” antes de Lula vencer a disputa pela primeira vez, em 2002. Eu denunciei a natureza autoritária e aparelhista dos companheiros quando ainda tinham fama de honestos. Ou você que me lê seria um petista se lá só houvesse santos? Eu não seria. Então a corrupção é irrelevante? A pergunta é estúpida. É claro que não. A honestidade é um imperativo.
Por que isso tudo? Porque, e outros textos vêm na sequência, a direita xucra está assanhada. Esses tontos já deram um trabalhão no ano passado. Ora desafiados por esquerdistas e manipulados por oportunistas e teóricos da conspiração, os xucros querem tomar às ruas, agora tendo como alvo o governo Temer.
As esquerdas largam o chicote no lombo da direita burra, e esta sai por escoiceando manifestos.
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