Ricardo Pessoa tem nitroglicerina pura contra PT

  • Por Jovem Pan
  • 23/02/2015 10h42

Reinaldo, então há coisas um tanto estranhas nos bastidores do Petrolão?

Há sim e todo cuidado é pouco. Vamos lá. O empresário Ricardo Pessoa, dono da construtora baiana UTC, quer falar. É preciso saber se o Ministério Público Federal, cujo chefe é Rodrigo Janot, quer ouvir. E, se a gente chegar à conclusão de que não quer, então é preciso conhecer os motivos. Vamos ver.

Reportagem de capa da mais recente edição da revista VEJA  joga luz em parte considerável dos porões do petrolão. Ricardo Pessoa, preso desde novembro, está disposto a falar, e a revista revela um tanto do que ele tem a dizer. E o que ele ele quer dizer desde que Janot queira ouvi-lo num processo de delação premiada? Sintetizo as informações.

1. A UTC doou por baixo do pano R$ 30 milhões à campanha eleitoral do PT em 2014;

Pergunto: O Ministério Público, que aqui sintetizo na pessoa de Rodrigo Janot, quer ou não quer ouvir o que Pessoa tem a dizer?

Janot andou a pensar alto por aí e eu revelo aqui um destes pensamentos. Prestem atenção:

“Passei a régua e, felizmente, Lula e Dilma estão limpos.” É? Então é hora de voltar à prancheta. E isso implica, parece, em encaminhar o acordo de delação premiada com empresário Ricardo Pessoa, da UTC. Ele está disposto a contar como repassou R$ 30 milhões para as campanhas eleitorais do PT, em 2014. R$ 10 milhões dos quais para os cofres da candidatura de Dilma Rousseff. Que diabo então de “limpeza” é essa?

Como já resta mais do que evidente, José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça, andou transitando e transita ainda, freneticamente, nos corredores para impedir novas delações premiadas às empreiteiras, com atenção especial dedicada justamente a Pessoa, ex-amigão de Lula.

Um dos interlocutores frequentes de Cardozo, diga-se, tem sido justamente Janot. E isso não é bom. É evidente que um procurador-geral deve manter relações institucionais com o ministro da Justiça. E só. Em dias como os que vivemos, conversas cordiais entre quem investiga e porta-vozes informais investigados não parecem constituir atitude muito prudente.

E tudo se torna institucionalmente mais arriscado quando o interlocutor de Janot, como tem sido Cardozo, anuncia o advogado de um dos réus na reviravolta, no caso, de um suposto potencial para tragar também a oposição. É preciso muito rigor para que não se alimente a desconfiança, não é mesmo?, de que Cardozo sabe mais do que deveria saber sobre o que anda apurando o Ministério Público Federal.

Ademais, não cabe a Janot saudar o fato de que Lula e Dilma estão limpos. De saída, cabe a pergunta: Estão mesmo ou isso traduz apenas a leitura mais conveniente?

Sugiro ao procurador-geral que encaminhe logo a delação premiada de Ricardo Pessoa, aí então veremos. E sugiro também que suspenda as conversas com José Eduardo Cardozo, afinal Dr. Janot, como esquecer as palavras de Paulo Okamoto, sócio e “faz-tudo” de Lula, em entrevista ao Estadão? Ao se referir às relações do PT com as empreiteiras, ele foi cristalino: “Funciona assim: você está ganhando dinheiro? Estou. Você pode dar um poquinho do seu lucro ao PT? Posso ou não posso.”. Tudo muito claro, não é mesmo?

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