Russomanno resolve usar Erundina para uma manobra esperta

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 22/08/2016 11h44
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Elton Bomfim/Agência Câmara Celso Russomanno - ACAMARA

Estou realmente comovido com a bondade do candidato a prefeito do PRB, Celso Russomanno. Num ato de generosidade inigualável, ele está pensando em não participar do primeiro debate na TV com seus oponentes, que acontece nesta segunda, na Band, a partir das 22h30.

E o que motiva tanta generosidade? Ele diz que deixaria de comparecer em solidariedade à candidata Luíza Erundina, do PSOL, que, segundo as regras da nova Lei Eleitoral, não tem direito a participar dos embates. Dada a legislação em vigor, só candidatos de partidos com representação mínima de nove deputados federais têm assento garantido. E o PSOL tem apenas seis.

Para que um candidato sem a representação mínima participe, é preciso haver a concordância de todos os outros. Marta Suplicy (PMDB), João Doria (PSDB) e Major Olímpio (PDT) defendem que se cumpra a legislação. O PSOL já recorreu ao STF com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade contra a lei.

Na melhor tradição da esquerda, Erundina promete fazer um ato à porta da Band e transmitir comentários ao vivo sobre o debate.

Então vamos ver.

Russomanno diga o que quiser, mas, se realmente não comparecer, todos temos o direito de inferir que, liderando as pesquisas de opinião (25% segundo o mais recente Datafolha), sabe que tende a ser alvo de adversários como Fernando Haddad, do PT (8%), e Marta (16%). Se ele realmente se ausentar, a tendência é que a peemedebista, o petista e o tucano João Doria (6%) se estranhem.

Assim, o que parece ser generosidade está mais para uma tática. E ainda haveria a possibilidade de os participantes sofrerem algum desgaste por causa de Erundina.

Eu já disse o que acho nesse caso como em tudo o mais: a lei deve ser seguida. Já me parece um excesso de generosidade estabelecer o número mínimo de apenas nove deputados — ou 1,76% da Câmara. Sim, é verdade: Erundina aparece com 10% das intenções de voto no Datafolha, mas todo mundo sabe que esses não são eleitores do PSOL. Ora, não é essa legenda que vive pregando por aí que se fortaleçam os partidos?

De resto, essas coisas têm trajetórias curiosas, né? Erundina dissentiu do PT, digamos assim, pela direita, quando deixou o partido para ser ministra de Itamar Franco. Depois, acabou encontrando abrigo do PSB, ainda à direita do PT. Deu um salto e passou para o PSOL, aí à esquerda. Isso não se parece exatamente com convicção partidária.

Mas essa questão é o de menos agora: o fato é que existe uma lei, e o conveniente é que ela seja cumprida — até que não mude ou até o Supremo, como quer o PSOL, não declare a sua inconstitucionalidade.

Afinal, se Erundina for eleita, espera-se que… cumpra a lei.

Quanto a Russomanno, recomendo que encontre motivo mais verossímil caso realmente decida não comparecer ao embate.

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