Sanções das potências ocidentais à Rússia são mesmo fraquinhas

  • Por Jovem Pan
  • 18/03/2014 12h21

Reinaldo, você afirmou ontem aqui que a Rússia não é o Irã, e que as sanções dos Estados Unidos e União Europeia à Rússia seriam fraquinhas. E aí?

Foram fraquinhas, fraquinhas. Eu disse ontem textualmente isto aqui: “a Rússia não é o Irã, não se trata de um pais que possa ser marginalizado no conserto das nações. Até porque tem lá o seu assento no Conselho de Segurança da ONU”.

Dito e feito. Obama anunciou ontem a sua reação, onze russos e ucranianos tiveram seus supostos bens congelados nos Estados Unidos e não poderão viajar ao país. A União Europeia anunciou medidas semelhantes para 22 pessoas. Grande coisa. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, não foi alcançado por nenhuma punição.

Isso demonstra a dificuldade em que se encontram os líderes ocidentais nessa questão. A Europa depende do gás russo para tocar a sua economia e os americanos, obviamente, não vão à guerra por causa da Crimeia, que no fim das contas o mundo inteiro considera russa. Bom que fique claro, esse congelamento de bens se dá em tese. Se os, vá lá, punidos, não tiverem investimentos na Europa, a medida é ainda mais inócua.

Obama disse palavras ambíguas, a saber: “se a Rússia continuar a interferir na Ucrânia estamos prontos a impor mais sanções”. Embora Estados Unidos e União Europeia não reconheçam o referendo da Crimeia o fato é que Putin já reconheceu a autonomia da república em relação à Ucrânia. E deve dizer nesta terça ao parlamento da Rússia que aceita a sua anexação.

Parece-me que este “continuar a interferir” de Obama diz respeito à região leste da Ucrânia, que tem uma parcela significativa, embora minoritária, de russos. Mas sobre a qual até agora Putin não avançou, e não há sinais, por enquanto ao menos, de que pretenda fazê-lo.

Eu insisto que nessa história toda há uma leitura que acaba deixando quase todo mundo contente. Putin perdeu a Ucrânia, isso é fato. Exceção feita à Crimeia, a maioria da população quer o país integrado à Europa, o fervor Kiev não é o mesmo em toda a parte, mas é maioria ainda sim. Sob esse ponto de vista, o presidente russo é um derrotado. Mas desde o começo, como apontei aqui, ele pediu uma compensação: a Crimeia.

É irrelevante para o mundo mas é estrategicamente relevante para a Rússia. Muito pragmaticamente pergunto: vale a pena criar uma grande crise internacional por causa daquela península, quando de resto a esmagadora maioria da população quer a república integrada à Rússia? O ocidente faria melhor se começasse o caminho da negociação, atentando, aí sim, para que os direito dos não-russos da Crimeia, muito especialmente os 25% de ucranianos, sejam respeitados.

Insisto, nessa história toda cumpre fazer de Vladimir Putin o derrotado. Da forma como agem Obama e os líderes europeus, ele acaba aparecendo como aquilo que não é, um vitorioso.

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