Se Marina falasse a sério, seria uma irresponsável; como não fala, é uma irresponsável!
Critiquei aqui, como sabem, o editorial da Folha que cobrou a renúncia da presidente Dilma Rousseff e de seu vice, Michel Temer. Expus os meus motivos. Basicamente: 1) ela cometeu crime de responsabilidade e tem de ser cassada; a renúncia apressaria as coisas; 2) Temer, que se saiba, não cometeu tal crime; 3) eleição, agora, exporia o país ao chamado ódio à política; 4) o futuro presidente teria de governar com esse mesmo Congresso; 5) num período de desajustes de economia, novas e impossíveis promessas seriam feitas; 6) o presidente eleito teria direito à reeleição; 7) precisamos de mais estabilidade, não o contrário.
Muito bem! A Folha defenda o que quiser. Não é diretamente interessada na coisa — não mais do que qualquer um de nós. Não disputa o poder.
Mas esse não é o caso de Marina Silva. Até agora, esta senhora está se esgueirando pelos cantos da política, negando-se a dizer qual é a sua. Ou melhor: ela diz! Já se manifestou contra o impeachment mais de uma vez, quando o movimento era ainda incipiente e veio com a cascata de que o país não pode ser entregue ao PMDB — ainda que diga isso com outras palavras.
Entendo! Marina não quer o país entregue ao PMDB porque o quer capturado na sua “Rede”. Por que Marina não quer o impeachment? Porque, no melhor cenário pra ela, Dilma (Lula) fica até 2018, o PT chega esfrangalhado às urnas, e ela própria, a personagem do bem fugida de Avatar, apresenta-se como a candidata dos progressistas, unindo o eleitorado de esquerda.. Não! Eu não acho que Lula se candidate em 2018 mesmo que o regime siga sendo presidencialista.
Como é confortável ser Marina, não é mesmo? Enquanto uns lutam para permanecer no poder, usando as armas mais sórdidas; enquanto outros os enfrentam para apeá-los, a chefona da Rede assiste a tudo, calma e placidamente, censurando a todos e dizendo: “Ah, não quero PT; não quero PMDB; não quero PSDB…”. Claro, ela quer Rede.
Mas não pensem, e não caiam nesta, que Marina está sendo sincera quando diz defender eleições agora. A Folha deve acreditar mesmo ser essa a saída, embora, a meu juízo, um equívoco brutal. Marina está fingindo. Houvesse hoje eleições, ela teria, sim, boas chances de levar. Vocês acham mesmo que ela se arriscaria a ser presidente a esta altura do campeonato, com o país nessa desordem, inclusive partidária? Ela posa de estranha e do outro mundo, mas é uma calculista e deste mundo.
De verdade, Marina nem quer impeachment nem quer eleições. Ela quer que Dilma/Lula continue por aí. Acha que, em meio aos mortos e feridos, o poder vai lhe cair no colo em 2018.
Está atingindo o estado da arte do oportunismo político.
Perceberam como, até agora, ela não disse se acha que Dilma cometeu crime de responsabilidade ou não? Ora, se pensa que sim, deveria defender o impeachment; se ela não defende, deve avaliar que não. Então cobraria a renúncia por quê? Por pura hipocrisia! Porque o seu discurso recheado de vento já começa a se mostrar.
Ela sabe que Dilma e Temer não renunciarão. Assim, faz o discurso da virgem moralista num lupanar de degenerados.
Se Marina falasse a sério, seria uma irresponsável. Como ela não fala, é uma irresponsável.
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.