Se o Brasil sobreviver à Lava Jato, como diria Moro, não sei se a língua portuguesa sobrevive

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 08/11/2016 08h15
Zeca Ribeiro / Câmara dos Deputados Sessão do Congresso Nacional para análise e votação de vetos presidenciais - ACAMARA

Ai, meu Deus! Se o Brasil sobreviver à Lava Jato e à delação da Odebrecht, não se tem garantia nenhuma de que a língua portuguesa sobreviva à memória dos bandidos. Tudo indica que haverá um surto de relatos dos criminosos.

Folha informa que o doleiro Alberto Youssef, o segundo a fechar um acordo de delação premiada, está, ora vejam!, escrevendo um livro. Estaria falando com um jornalista. Ainda não está claro se é para nos comover ou se seremos apresentados a um exercício de estilo.

Parece que ele vai avançar para o terreno em que brilharam, no Brasil, Graciliano Ramos, Pedro Nava e até Roberto Campos: o memorialismo. Deve contar o tempo em que era apenas olheiro numa quadrilha de contrabandistas que atuava na fronteira do Paraná com o Paraguai. Aí narrará os sucessos da Operação Banestado — de que Sergio Moro foi juiz — e vai chegar, claro!, aos dias atuais, de Lava Jato.

Parte de sua narrativa vai se concentrar em seus dias na cadeia. Está preso desde março de 2014.

Se você é do tipo que não resiste às lições que os criminosos têm a nos passar, caro leitor, pode ir preparando o bolso. A safra promete ser prolífica. Consta que o ex-deputado Eduardo Cunha também prepara a sua bomba. Caso faça delação premiada, o que restará de tão interessante a dizer num livro — pergunta, aliás, que vale para todos os candidatos a parceiros de Bob Dylan? O que eles têm a nos dizer? Tiradas morais, aforismos, filosofia pura, autoajuda? Bem, é ler para crer — não eu, claro!

Também pretendem dar início à carreira literária Meire Poza, ex-secretária de Youssef, Nelma Kodama, ex-amante do doleiro, e Paulo Roberto Costa.

Oh, não, queridos! Não duvido que o Brasil tenha muito a aprender com essa gente. Aliás, espero que todos os criminosos da Lava Jato se convertam, como diria Fernando Pessoa, “a um budismo qualquer” e saiam por aí a fazer palestras. A linha, claro, tem de ser moralista-edificante, com a mensagem “o crime não compensa”, embora alguns deles, daqui a pouco, possam colecionar evidências de que essa máxima está longe de ser verdadeira.

Realmente acho de uma espantosa ousadia que alguém se meta numa sujeira como a que está vindo à luz e depois resolva nos provocar o intelecto com considerações que, reitero, se úteis, deveriam estar na delação e, por inúteis, deveriam ir para a lata do lixo.

E, bem, tenho a certeza de que todos foram vítimas de circunstâncias que não eram de sua escolha.

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