Sem doação de empresas, campanhas podem ter dinheiro do crime organizado
Reinaldo, Gilmar Mendes, ministro do Supremo e vice-presidente do Tribunal Superior Eleitoral, alertou para o risco de algo muito grave, não?
Sim, segundo o ministro, com a proibição da doação legal de empresas para campanhas, há o risco de o crime organizado se infiltrar nas eleições. Já afirmei aqui na Pan muitas vezes que a primeira consequência imediata da proibição será o aumento do “caixa dois” das campanhas. É só uma questão de lógica elementar.
Se a lei proíbe que as empresas doem legalmente, é claro que uma parte delas continuará a fazê-lo ― aí ilegalmente. Ou vocês acham que os candidatos vão se contentar apenas com a parte que lhes couber de recursos oficiais que terão de ser repassados? Ora.
E o segundo efeito, no qual eu não havia pensado ― e para o qual chama a atenção agora o ministro ― é justamente este: o dinheiro do crime organizado, inclusive, sim, de grupos como o PCC, entrar na política. Tudo indica que isso já está em curso hoje em dia, é bom deixar claro, mas ainda de forma marginal. A tendência é que cresça. E por quê?
As doações ilegais a partidos e a políticos têm de ser feitas em espécie, em moeda sonante. O Brasil tem um relativo controle sobre o dinheiro legal que circula no país. Qualquer valor que tenha sido, em algum momento registrado pode, em tese ao menos, ser rastreado. Há formas de cruzar dados. O risco da punição por sonegação será sempre muito grande. Assim, o dinheiro do caixa dois é, necessariamente, um dinheiro ilegal.
É por isso que existem na política figuras como Alberto Youssef, o doleiro. Ele atua num ramo em que se tem de trabalhar com dinheiro vivo. O outro é justamente o crime organizado, que costuma se sustentar em dois pilares: jogo e drogas, que também operam com papel-moeda. Não passam por nenhuma forma de controle estatal. O terceiro são os supermercados da fé que se disfarçam de religião.
Aliás, os defensores da legalização do jogo e da droga que não são pilantras são apenas inocentes. Ainda que essas atividades fossem legais, a natureza da transação obriga a que se lide com a grana viva. É o paraíso da lavagem de dinheiro. “E Las Vegas?” Sim, Las Vegas é a melhor prova da tese. Mas deixo isso pra lá agora.
Há indícios evidentes de que o PCC, vamos dizer, já capturou algumas franjas da representação política no Brasil. Tão logo as empresas estejam impedidas de doar, aí, meus caros, vai ser a festa. Sempre haverá um candidato precisando de alguma bufunfa com urgência, e sempre haverá, claro, um amigo do candidato que conhece um outro amigo que sabe onde conseguir o capilé. Os ministros do Supremo que devem formar a maioria contra a doação de empresas a campanhas não têm noção do mal que estarão fazendo ao país.
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