Será que o histerismo é razoável na crise ucraniana?

  • Por Caio Blinder
  • 01/09/2014 20h37

A crise ucraniana é grave. Uma das analistas que eu mais respeito, a jornalista e escritora americana Anne Applebaum, reconhece, o tom de suas reflexões pode soar histérico ou apocalíptico. Ela ecoa os sobressaltos da Europa Oriental, que viveu tanto tempo sob jugo soviético, além de amargar o nazismo, e trata o fator Putin com muito mais inquietação do que os primos ocidentais.

Anne Applebaum alinha os motivos para justificar seu som. Nos últimos dias, tropas russas que cruzaram a fronteira ucraniana (tudo negado pela agitprop) carregavam a bandeira de um país desconhecido, a Novorossiya, Nova Rússia, que são as reinvindicações históricas do império czarista sobre territórios do sudeste ucraniano e com um sentido cada vez mais flexível.

Existe, de fato, uma conversa apocalíptica em Moscou. Alexander Dugin, um guru do nacionalismo extremo, não mede palavras. Ele vocifera a favor de uma “limpeza de idiotas” na Ucrânia” e o “genocídio de uma raça de bastardos”. Seria meramente folclórico, embora aterrador, caso o Kremlin não desse ouvidos a Dugin.

Outro alucinado, o deputado Vladimir Zhirinovosky, argumentou na televisão que a Rússia deveria usar armas nucleares na Polônia e nos países bálticos, “estados anões” na sua definição. Talvez bravatas de lunáticos, mas, na sexta-feira, falando a jovens em um acampamento de verão, Putin lembrou que a Rússia “é um poderoso país nuclear”.

Anne Applebaum divaga e viaja para os idos de 1939, para os tempos de Stálin e Hitler, quando a retórica era insana, mas as promessas de déspotas foram cumpridas. A preocupação de Anne Applebaum é que no momento ninguém se mostra preparado para deter Putin.

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