Situação no Oriente Médio pode levar a uma ampla conflagração regional
O Oriente Médio em 2017 dá uma sensação de 1914, quando o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando em Sarajevo desembocou na Primeira Guerra Mundial. Não, não estou antevendo a Terceira Mundial, mas apenas constatando que a confluência de tensões, rivalidades e disputas pode levar a uma ampla conflagração regional, o que obviamente terá ramificações globais.
Com seu improviso tático mesclado com ignorância e impulso, o presidente Trump cerrou fileiras com a Arábia Saudita e afilhados no seu conflito, não apenas com o pequeno Catar, mas incentivando o petroestado, guardião dos lugares sagrados de Meca e Medina, a afiar ainda mais as espadas na disputa com o xiita Irã.
O Irã já alarmado com o abandono do engajamento limitado da era Obama, que teve o acordo nuclear como desfecho, foi alvo de um ataque sem precedentes na quarta-feira. O Parlamento e o Mausoléu do pai fundador da revolução xiita, o aiatolá Khomeini, foram atacados em Teerã.
O Estado Islâmico assumiu a autoria, mas a Guarda Revolucionária, a linha dura do regime iraniano, preferiu apontar o dedo saudita. Quem quer que seja, as areias no deserto estão ainda mais movediças.
O Estado Islâmico, acuado nos territórios que conquistou no que eu chamo de Síraque, Síria + Iraque e com os ataques se intensificando nos seus redutos em Mosul e Raqqa, precisa mostrar serviço. Assim, assume a autoria de atentados terroristas, seja em Londres, seja em Teerã.
O sunita Estado Islâmico considera herético o regime xiita, mas Teerã obviamente teme muito mais esta desenvoltura saudita, especialmente do herdeiro do trono, principe Mohammed, para um acerto de contas entre as duas potências regionais.
A escalada de tensões ficou patente esta semana com o isolamento do pequeno Catar, que tenta fazer média com todo mundo, numa ação capitaneada pela Arábia Saudita e Egito. Já a Turquia não escondeu sua inquietação com o lance contra o Catar. Quanto a Israel, reforça sua aliança tática com os inimigos do seu inimigo, o Irã.
Dentro do Iraque e da Síria, existem guerras de milícias e como se a situação não estivesse suficientemente explosiva, os curdos do Iraque anunciaram que vão realizar em setembro um referendo sobre a independência.
Num região de alta combustão sectária, a opção da ainda superpotência americana com Trump é apontar o Irã e o Estado Islâmico, rivais mortais, de serem os principais agentes sectários e de terrorismo.
No entanto, o jogo de alianças e disputas é multidimensional e de uma tal complexidade que tudo parece uma miragem. Não é. Tudo é real e mais perigoso a cada dia que passa.
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