Sou grato ao crime de responsabilidade de Dilma e aos ladrões do PT

  • Por Jovem Pan
  • 30/08/2016 12h29
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Plenário do Senado Federal durante sessão deliberativa extraordinária para votar a Denúncia 1/2016, que trata do julgamento do processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff por suposto crime de responsabilidade. Na tribuna em discurso, Dilma Rousseff. Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado Fotos Públicas Julgamento do Impeachment - senado

Previa-se um eventual embate agressivo entre Dilma Rousseff e os senadores favoráveis ao impeachment. Felizmente, não aconteceu. Os questionamentos foram respeitosos e, admita-se, na forma, a Afastada soube se comportar. Não que faltassem esgares de mau humor e um movimentar ou congelar de sobrancelhas nem sempre amistosos. Mas, em regra, a presidente se conteve em seu dia final. Pois é…

Dilma poderia ter se limitado a ler aquela carta patética, eivada de mentiras sobre o passado, o presente e o futuro, mas, vá lá, dotada de alguma unidade. Com muita distração e alguma abstração, talvez a gente até se visse tentando a enxergar ali a figura de uma resistente. Mas quê… Houve depois a fase das perguntas e das respostas. Aí a presidente enfiou o pé na jaca.

É espantoso que ela tenha sido eleita presidente da República. Mais espantoso ainda é que tenha sido reeleita. Ao acompanhar algumas de suas respostas, fiquei tentado a ser grato aos ladrões do PT. Ao prestar atenção a certas coisas que ela dizia, pensei, num momento tresloucado, em ser grato também a Dilma por ela ter cometido crime de responsabilidade. Deus do céu! E se os petistas fossem honestos? E se Dilma não tivesse atentado contra a Lei Orçamentária? Teríamos de ficar com ela até 2018. E aí só restaria Deus para ter piedade de nós. E acho que, ainda assim, ele não iria querer se meter.

A Dilma que respondeu aos questionamentos dos senadores desmentiu aquela falsa humilde que chegou a admitir alguns eventuais erros. Ao entrar no detalhe de suas escolhas, percebemos que a mulher não reconhece falhas em seu governo. Sim, ela está convicta de que só está caindo por causa de suas qualidades.

Depois de fazer digressões sobre a natureza internacional da crise, foi indagada por Janaina Paschoal, que compõe a acusação, sobre a realidade econômica em outros países da América Latina. Por que a crise se mostrava especialmente severa com o Brasil? A indagação subjacente, pois, é se o desarranjo da economia não decorria, então, de escolhas feitas pelo governo, pela própria Dilma.

E aí assistimos a um momento fabuloso, só equiparável, em indigência técnica, à resposta dada por Luiz Gonzaga Belluzzo, testemunha de defesa, convertida em informante, segundo quem não existe operação de crédito quando um banco público arca com o custo de política de governo sem o devido repasse do Tesouro. Para ele, isso é mera questão fiscal. Confrontado com o que está da Lei de Responsabilidade Fiscal, ele deixou claro que discorda da dita-cuja. Aí fica fácil. Mas voltemos a Dilma.

De modo incrível, contra todas as evidências, contra tudo o que está mais do que claro, comprovado, explícito, ela acredita que o descontrole das contas públicas derivou da recessão, não a recessão do descontrole das contas públicas. É um troço fabuloso. Chega a ser assombroso.

Repetiu no Senado uma asnice que já havia proferido em seu discurso da ONU em setembro de 2015, conforme apontei neste blog então. Reescrevo agora o que escrevi naquele post:
“O tal superciclo das commodities terminou em meados de 2012. Em vez de tomar as medidas prudenciais, esta senhora enfiou o pé nos gastos públicos e manteve o modelo ancorado no consumo do tempo das commodities gordas. Para lograr tal intento, aplicou anabolizantes na economia como desonerações, isenções, estímulo ao crédito. Os que anteviam que o ‘modelo’ naufragaria foram tratados como inimigos do Brasil.”

Pois acreditem: ela não mudou seu diagnóstico. Ela insistiu na bobagem.

Aí, meus caros, não tem cura. Isso embute um arrependimento da governanta que se despede. No fim das contas, ela lamenta algumas medidas de contenção de gastos que chegou a adotar, quando já não surtiam mais efeitos.

O que Dilma disse aos senadores, em suma, é que ela quer voltar para propor eleições. Caso isso não dê certo, ela tem outra ideia: adotar a mesma política econômica que nos conduziu ao abismo.

Ah, sim: à tarde, ela encontrou tempo ainda para censurar as economias dos EUA e da União Europeia. Ela não só acredita que esteve sempre certa. Ela também se acha um modelo para o mundo.

Sim! Sou grato ao crime de responsabilidade de Dilma e aos ladrões do PT. Sem eles, ela poderia ficar até 2018. Aí nem Deus se lembraria de ter piedade de nós porque o Senhor não era nada paciente com gente estúpida. Leiam lá no Velho Testamento.

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