Técnicos do TSE recomendam rejeição das contas de campanha de Dilma

  • Por Jovem Pan
  • 09/12/2014 11h55

Reinaldo, técnicos do TSE recomendaram a rejeição das contas de campanha de Dilma. E parece que as coisas podem se complicar ainda mais.

Podem sim. Então vamos ver. Técnicos do Tribunal Superior Eleitoral que analisaram a prestação de contas da candidata do PT à Presidência em 2014, Dilma Rousseff, recomendaram a sua rejeição. O parecer foi enviado a Gilmar Mendes, ministro do STF que é o relator do caso no TSE. Ele remeteu o parecer ao Ministério Público Eleitoral e estipulou um prazo de 48 horas para que o órgão se manifeste.

Nesta quarta, o ministro deve apresentar o relatório. O gabinete de Mendes também andou encontrando coisas estranhas. Já chego lá. Antes, é preciso destacar que tem um motorista no meio do caminho. No meio do caminho tem um motorista.

Segundo informam Andréia Sadi, Ranier Bragon e Gustavo Uribe na Folha, “a segunda maior fornecedora da campanha de Dilma Rousseff tem como um dos sócios administradores uma pessoa que, até o ano passado, declarava o ofício de motorista como profissão”.

É, ouvintes. Uma empresa chamada Focal Confecção e Comunicação Visual recebeu a bolada de R$ 24 milhões da campanha. Só o marqueteiro João Santana levou mais: R$ 70 milhões. A Focal fica em São Bernardo, e um dos seus donos, no papel ao menos, é Elias Silva de Mattos, um rapaz que é motorista e , até o ano passado, recebia R$ 2 mil por mês. Ele se tornou sócio em novembro do ano passado, com participação de R$ 3 mil na composição da empresa. A outra sócia é Carla Regina Cortegoso, com cota de R$ 27 mil.

A reportagem da Folha falou com Mattos. Sua reação? Esta, prestem atenção:

“Eu sabia que ia virar transtorno na minha vida. Eu não posso dar entrevista, não estou preparado para falar. Eu não sou nada, vai lá conversar com eles”. Mattos se referia à empresa.

Quem falou em nome “deles” foi Carlos Cortegoso, pai de Carla Regina, que nem sócio da empresa é. Ele preferiu emprestar à coisa um sotaque sociológico, de luta de classes talvez, disse: “Todo mundo tem o direito de ascender na escala social mediante o trabalho e competência”.

Em 2005, com outra composição societária, sem o motorista, a Focal foi apontada por Marcos Valério – aquele do mensalão – como uma das destinatárias de recursos do esquema, por indicação do PT.

Voltemos à prestação de contas. As notas fiscais apresentadas pela Focal, que teria atuado na área de montagem de eventos, integram o lote dos problemas apontados pelos 16 técnicos do TSE, que afirmam ter encontrado irregularidades em 4% da arrecadação de campanha (R$ 319 milhões) e em 14% das despesas – ao todo, R$ 350 milhões.

O ministro Gilmar Mendes solicitou ainda à Receita dados complementares sobre cinco empresas que colaboraram com a campanha de Dilma: a Saepar Serviços, a Solar BR, a Gerdau Aços Especiais, a Ponto Veículos e a Minerações Brasileiras Reunidas. O total doado por essas companhias ultrapassa os R$ 10,6 milhões. A lei estabelece que cada empresa pode doar, no máximo, 2% do seu faturamento.

Segundo cálculo feito pelo gabinete de Mendes, o limite foi ultrapassado. Em despacho à Receita com data de sexta, o ministro cobra os números com “máxima urgência”, dados os “fortes indícios de descumprimento do limite para doação”.

E agora? Mendes deve apresentar seu relatório na quarta. Pode acatar o parecer dos especialistas do TSE ou rejeitá-lo. Mesmo que as contas sejam rejeitadas pelo TSE, Dilma pode ser diplomada. Mas a oposição terá em mãos um trunfo para pedir uma investigação judicial, que pode resultar até na cassação do diploma da presidente e na consequente perda do mandato.

O caso do motorista que ganhava R$ 2 mil e agora é sócio de um empreendimento que está em segundo lugar no item das despesas do PT não ajuda muito, né? Sobretudo porque, tudo indica, o rapaz não está à vontade na pele de um dos donos de uma empresa que fatura R$ 24 milhões com um único cliente.

Para arrematar: pensemos nesse caso. Alguns tontos dizem que os males do Brasil são as doações de empresas a campanhas. É mesmo? Se o financiamento fosse público, será que não existiriam mais assalariados de R$ 2 mil como sócios de empreendimentos de faturamento milionário? Tem um motorista no meio do caminho. No meio do caminho, tem um motorista.

 

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