Temer e o PSDB acertam os ponteiros; até aqui, o presidente foi melhor do que se esperava

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 19/08/2016 12h06
  • BlueSky
Brasília - O presidente interino Michel Temer durante cerimônia de posse aos ministros de seu governo, no Palácio do Planalto. À esquerda, o senador Aécio Neves (Valter Campanato/Agência Brasill) Valter Campanato/Agência Brasill Aécio Neves e Michel Temer - PSDB e PMDB

O PSDB e o núcleo duro do governo federal andaram se estranhando nos últimos dias, o que está longe de ser uma boa notícia. Afinal, os tucanos são, exceção feita ao PMDB, partido do presidente, os principais aliados de Michel Temer. Mais do que isso: ainda que o PMDB esteja num processo, vamos dizer, de solidificação e homogeneização de suas convicções, ainda é uma estrutura bastante gelatinosa, que agrega interesses muito diversos. Nesta quarta-feira, a cúpula tucana jantou com Temer. O partido reivindicou, e assim será, maior participação nas decisões estratégicas. Vamos ver.

Onde muitos estão vendo excesso de hesitação de Temer, aponto uma necessária prudência. Vamos ser claros? Vivemos um momento inédito. Não cabe um paralelo com a transição de Fernando Collor para Itamar Franco. A esta altura do campeonato, Collor já tinha renunciado — o que explica, inclusive, que seu julgamento no Senado tenha sido quase sumário. Dilma vai até o fim. E o PT, à diferença do PRN de Collor, existe. E está aí, com lideranças de expressão, goste-se ou não, para explorar cada passo em falso do governo.

Nesse sentido, temos de reconhecer, Temer é uma má notícia para o PT. Os “companheiros” precisam de um jogo mais acelerado, de mais calor, de mais gritaria, de mais estridência. O presidente, no entanto, parece um mestre da desaceleração, como se tudo devesse ser decidido na base do consenso. Para essa fase que desembocará no julgamento no fim deste mês, o presidente é o pior adversário que os petistas poderiam ter.

Observem: petistas e esquerdistas no geral contavam que, a esta altura, já estariam ocupando as ruas, com greves, interdições do trânsito, gritaria… Prepararam-se para o berreiro dos “cortes nos benefícios sociais”, que, no entanto, não chegaram. E, no modelo da pregação terrorista do PT, não chegarão. Isso explica a quase abulia em que mergulharam o partido, as esquerdas e os ditos movimentos sociais.

E o Brasil precisava desse esfriamento de ânimos.

Mas é evidente que o ajuste, na medida em que precisa ser feito, ainda está por… ser feito! Acompanhado dos ministros Moreira Franco (Programa de Parcerias de Investimento) e Eliseu Padilha (Casa Civil), Temer recebeu no Palácio do Jaburu os senadores tucanos Aécio Neves (presidente do PSDB), Aloysio Nunes Ferreira (SP), líder do governo no Senado, e Cássio Cunha Lima (PB), líder do partido. Também compareceu o líder tucano na Câmara, Antônio Imbassahy (BA).

Aloysio passará a participar, por exemplo, das reuniões do núcleo econômico no Palácio do Planalto, o que, convenham, já deveria estar acontecendo desde que assumiu a função de falar em nome dos interesses do governo no Senado.

À Folha, Aécio declarou o seguinte:
“O presidente não tem a possibilidade de errar de agora em diante. Nós apresentamos a ele os mesmos temas que já tínhamos apresentado, de reformas estruturais no País. O que nós ouvimos do presidente Michel e de alguns dos seus principais assessores é que ele tem absoluta disposição de inaugurar na semana que vem um tempo novo em seu governo, onde a agenda de reformas seja clara, e o governo como um todo, não apenas o PSDB ou alguns dos aliados, lute por ela. Uma agenda que vai recuperar o País”.

Como reconheceu o próprio Eliseu Padilha, a reivindicação é pertinente. É preciso evitar bateção de cabeça como houve no caso da renegociação da dívida dos Estados, que contemplava o veto a reajuste de servidores. Os tucanos apoiaram a proposta, mas o Planalto voltou atrás. É inegável que o recuo é ruim para as contas públicas. Mas igualmente inegável é que essa não é uma boa negociação às vésperas do impeachment.

A partir de setembro, essa questão estará superada. E Temer será o presidente de fato e de direito, como já é hoje, mas sem mais o peso da interinidade. Então será preciso começar a arrumar os desastres que o PT provocou na economia. Por enquanto, o que se fez foi apenas impedir a continuidade da demolição.

Temer andou por caminhos inéditos sem GPS. E foi muito bem. Agora é preciso se preparar para tomar medidas num cenário de previsibilidade. E então o governo pode começar para valer.

Para encerrar: um mundo com dois papas, convenham, já não nos era novidade. Mas o Brasil nunca tinha tido antes dois presidentes por tanto tempo. Não é fácil.

  • BlueSky

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.