Temer ensaia mudança vital na Previdência. E Schopenhauer e tédio

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 27/03/2017 09h24
Agência Brasil/Arquivo Previdência

Vamos falar um pouco do Brasil que tem de avançar? Afinal, a militância das cavernas do pensamento não pode nos monopolizar. O presidente Michel Temer almoçou ontem da casa do deputado Pauderney Avelino (DEM-AM), em companhia dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE). À noite, Temer se encontrou no Palácio do Jaburu com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e outros membros do governo. Na pauta do almoço e da reunião, a reforma da Previdência.

O desafio, como se sabe, não é pequeno. Especialmente porque o discurso vigarista e mentiroso das esquerdas tem mais apelo, não é? A elas basta dizer que se trata de um golpe contra direitos conquistados, negando, adicionalmente, o que é de uma espantosa cara de pau, que exista um rombo no setor. Neste domingo, uma boa sugestão veio à mesa. E talvez o governo a encampe. Antes, algumas considerações.

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Não fui à manifestação deste domingo, mas alguns dos meus amigos lá estiveram. Embora a defesa da reforma da Previdência estivesse na pauta de um dos movimentos, a avenida praticamente silenciou a respeito. A “direita” que protestou neste domingo, olhem que espanto!, é, na prática, contra a proposta. E é preciso ter coragem para ser vaiado mesmo estando certo, né? Não é uma virtude que se leve em conta nestes tempos.

Grupos de pressão à direita saíram por aí dando caneladas em Temer porque este decidiu retirar da emenda os servidores estatuais e municipais. Quando se ignora a vida real, fica mais fácil expressar uma opinião. A pressão de professores e, sobretudo, de policiais civis ameaçava pôr tudo a perder. A melhor reforma será a pior se não for aprovada pelo Congresso. O que é tão difícil de entender aqui? Mais: que ousadia, não é mesmo?, propor uma manifestação contra os políticos, mas conclamá-los, ao mesmo tempo, a comprar a briga da Previdência!

De toda sorte, neste domingo, uma proposta de Avelino despertou a simpatia de Temer, que a debateu, depois, à noite. Não está certo ainda que o governo vá por este caminho, mas a possibilidade é grande: a emenda da reforma da Previdência manteria, sim, fora da mudança os servidores de Estados e municípios, mas daria aos entes federados um prazo de seis meses para que fizessem suas reformas, obedecidos, claro!, alguns critérios. Caso nada se fizesse, então os servidores dessas esferas também se submeteriam às regras que valerão para os federais.

Governadores, prefeitos, deputados estaduais e vereadores certamente não vão vibrar de felicidade, não é? Melhor seria que Temer carregasse sozinho a cruz da reforma da Previdência. Eles apenas fariam cara de paisagem e poderiam até fingir um lamento: “Olhem, fosse por mim, não seria assim, mas sabem como é…”.

Se essa emenda for adiante, o que se faz é convocar também essas outras lideranças políticas a entrar na luta. Fácil, como se sabe, não é. Ou os que foram protestar contra os políticos neste domingo não teriam se acovardado diante de um tema que tem essa importância. Acontece que os que estavam nas ruas, na sua maioria, não tinham compromisso com essa pauta. E boa parte acha que só é preciso fazer reforma da Previdência porque há muitos ladrões no Brasil, o que é um cretinismo.

Se Schopenhauer baixasse entre nós, nestes dias, não morreria de febre amarela, dengue ou bala perdida. Morreria de tédio.

Acho esse um bom caminho para a reforma. Vamos ver.

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