Temer faz o certo e decide enviar ao Congresso reforma da Previdência antes da eleição

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 07/09/2016 07h52
Em evento em que anunciou recursos para o Bolsa Família e educação EFE/FERNANDO BIZERRA JR Michel Temer limpa o ouvido direito com o dedo médio

Faz muito bem o presidente Michel Temer em mandar ainda neste mês o projeto do governo de reforma da Previdência. E assim é segundo vários saberes. É o melhor no que diz respeito ao sentido mais estrito da moral; é o melhor segundo os fundamentos da ética na política; é o melhor se levada em conta a questão pragmática.

Analisemos os três aspectos. Temer assumiu a Presidência porque assim quer a Constituição. É o uniforme legal. Mas também é preciso se legitimar no jogo político. E essa legitimidade decorreu do fato de que se espera dele que faça o necessário, ainda que não o agradável. A questão não é saber se uma reforma da Previdência é popular ou impopular: é preciso explicar aos brasileiros o que pode advir caso ela não seja feita.

Ele tinha esse compromisso pessoal com o país. E não cumpre submetê-lo aos interesses partidários.

A questão ética é também relevante, sim. Já escrevi trezentas vezes aqui: Dilma caiu porque cometeu crime de responsabilidade. Foi a condição necessária. A suficiente só se estabeleceu quando se percebeu a gigantesca banana que teve de dar aos brasileiros logo depois da eleição. A petista cometeu o maior estelionato eleitoral de que se tem notícia. E isso é apenas um fato.

É preferível, sim, mandar o projeto já para que não se crie a impressão de que o governo espera passar o pleito para, então, tomar uma medida que é considerada impopular. Aí a questão já vai além da moral pessoal e diz respeito ao ambiente coletivo. É preciso começar a construir uma nova confiança no país.

E, finalmente, pensando em termos puramente pragmáticos, que muitos diriam (eu não!) existir em oposição àqueles outros, a escolha também me parece acertada.

Em primeiro lugar, note-se que o texto será apresentado agora, mas a votação vai se estender no tempo. Vai ultrapassar em muito o período eleitoral.

Em segundo lugar, os grandes adversários da reforma da Previdência são justamente as forças que acabaram de ser apeadas do poder. É claro que o PT tentará se ancorar nessa mudança para buscar renascer das cinzas. Melhor que esse embate venha agora, enquanto a obra dos companheiros ainda está viva na memória de todos. O tempo costuma aplacar algumas decepções. Que se faça já, então, o enfrentamento.

Difícil
Como diria o próprio presidente, “É difícil, é complicado, não é fácil”. Mas tem de ser feito. O governo deve enviar mesmo um texto propondo aposentadoria aos 65 anos para homens e mulheres. As novas regras valeriam para homens até 50 anos e para mulheres até 45. A partir dessa idade, haveria uma transição escalonada.

É evidente que eu apoio. No mínimo, isso. Também será preciso rever a situação da aposentadoria no setor público. Não se sabe o que o governo pensa a respeito.

Os partidos da base aliada têm de ter a coragem de fazer esse debate, explicando à população a natureza do problema. Vai adiantar? Não sei. Mas é preciso fazer o certo.

Ou o país ficará no buraco por muitas gerações.

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