Tentação autoritária e populista: o que acontece em tempos de crise

  • Por Caio Blinder/Jovem Pan
  • 13/06/2017 21h47 - Atualizado em 29/06/2017 00h17
Trump está disposto a negociar nova lei de saúde EFE/Michael Reynolds Presidente dos EUA Donald Trump em reunião sobre sanidade na sala Roosevelt da Casa Branca

Na segunda-feira, eu tuitei sobre um texto que acabara de ler em O Globo. O assunto era a tentação autoritária e populista, com base em um estudo da London Business School, constatando que em tempos de crise e situações adversas as pessoas tendem a aumentar o apoio a figuras populistas e autoritárias, ao invés de pessoas respeitadas e de prestígio.

Claro que de cara vem à mente o Mr. Trump, mas podemos girar o globo ou se embrenhar na floresta da história e encontrar figuras que correspondem ao perfil. O estudo da London Business School analisou três estudos anteriores, somando entrevistas com 140 mil pessoas de 69 países ao longo de duas décadas.

No meu caso, eu destaquei o estudo no dia em que milhares de pessoas saíram às ruas russas para protestar contra corrupção e o regime de Vladimir Putin. Sei da ironia de que muitas vezes existe a tentação de sonhar com figuras autoritárias para dar um basta à corrupção. O longo regime Putin é o padrão natural que combina autoritárismo e corrupção.

E nenhuma surpresa nas reações de gente que me acompanha nas redes sociais. Digo nenhuma surpresa pelo número de pessoas simpáticas, complacentes ou tolerantes com a tentação autoritária ou populista. Foi a carga da cavalaria pesada a favor de Putin, Trump e obviamente o nosso Bolsonaro, que, como se sabe, tem seguidores atívissimos nas redes sociais. De quebra, pintaram até viúvas de Marine Le Pen, aquela destroçada nas eleições francesas por Emmanuel Macron. E eu gostaria de estender meu alerta sobre a tentação populista a Lula e mutantes

Sabemos que figuras populistas podem chegar ao poder através do voto, em geral mentindo, atiçando os maiores medos da população, fazendo falsas promessas ou meramente tirando proveito de uma situação de caos/incerteza/instabilidade.

O ponto a destacar é o que fazem os populistas para se perpetuarem no poder. Putin hoje ganharia uma eleição mesmo se fosse plenamente livre. No entanto, ele não se dá ao luxo de oferecer as condições para tal.

Putin não pode arriscar e investe na intimidação e coerção, como ficou mais uma vez patente no abafamento dos protestos de segunda-feira, que foram os maiores em dez anos.

Dou meus parabéns aos corajosos manifestantes. Eles gritavam “abaixo o czar” e nas minhas redes sociais alguns, para justificar Putin, disseram que depois da queda do czar há exatos 100 anos vieram Lênin e Stálin.  A mesma justificativa é usada por gente que abomina a Primavera Árabe e alerta ser melhor que fiquem no poder os ditadores da escola Bashar Assad para impedir a bagunça.

Sei que muitos dos meus ouvintes e internautas da Jovem Pan estão mais interessados na realidade brasileira, mas estou aqui para tentar oferecer algumas lições universais. Cuidado com a tentação autoritária ou populista quando existem bagunça, um poder avacalhado ou corrupção.

Sei que estou falando coisas óbvias, mas é o melhor alerta contra as armadilhas mais óbvias. Fiquei desolado com comentários nas minhas redes sociais de gente justificando Putin, Trump e Bolsonaro, mas quero terminar por cima citando o que escreveu Thereza Fontoura, uma ativa seguidora: “A maioria confunde autoridade com autoritarismo”.

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