Theresa May terá de ser grande na diplomacia

  • Por Caio Blinder
  • 13/07/2016 10h29
EFE Theresa May

 Europa e Grã-Bretanha entraram em parafuso com a decisão dos súditos da rainha Elizabeth de sair da União Europeia no referendo de 23 de junho.

Três semanas mais tarde, a expectativa é de que haja o mínimo de orientação na negociação de saída com a posse, nesta quarta-feira (13), de Theresa May como premiê no lugar do infeliz colega conservador David Cameron, que apostou as fichas na permanência britânica e perdeu o jogo e o emprego.

Theresa May, ministra do Interior de Cameron e linha-dura em questões de imigração, foi contra a saída, mas não se empenhou a fundo na campanha e espera, agora, unificar um partido rachado (na oposição trabalhista também existe pandemônio). Eu acredito que, para consolidar o mandato, ela acabará antecipando eleições gerais, na aposta razoavelmente segura de vitória.

A nova primeira-ministra tem reputação de ter sangue frio e vai precisar de muito com as paixões pós-Brexit. Os líderes da vitoriosa campanha acabaram numa situação melancólica, pois ficou flagrante a ausência de um plano para o day after.

No final das contas, Theresa se revelou como a menos pior das alternativas. Por algumas interpretações irônicas, pelo fato de carecer de carisma, existe a premissa de que tenha algum talento tecnocrático e, assim, poderá impedir o caos na saída da União Europeia.

Agora que a poeira se assentou um pouquinho nas ilhas britânicas, o que fará o continente? Deve acelerar a cobrança para que haja uma negociação por um divórcio civilizado em que nenhuma das partes saia arruinada, como  acontece muitas vezes em separações tumultuadas.

O processo vai exigir muita habilidade de ambas as partes. De um lado, existe um sentimento perverso nas lideranças mais convictas do projeto europeu. Se os britânicos se derem mal fora da União Europeia, isto pode ser uma ducha de água fria nos movimentos a favor da saída, mas uma Grã-Bretanha em crise crônica é mau negócio para todos.

A nova líder do Reino Unido é mecanicamente comparada à Margaret Thatcher, primeira e última mulher que chefiou o que sobrou do Império Britânico. Sim, a Thatcher, ferrenha conservadora que ficou conhecida sintomaticamente como a Dama de Ferro, mas Thatcher já tem um legado e atuou em outro contexto histórico.

Creio ser mais apropriado comparar Theresa May à outra dama de ferro, Angela Merkel, primeira-ministra alemã e comandante do projeto europeu, com a qual justamente negociará os termos desse apreensivo divórcio.

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