Tia Eron contra Cunha: “mitou” e “ressignificou”
Tia Eron, a deputada do PRB da Bahia, “mitou”, como se diz hoje em dia. Deixou claro que não é uma dessas e que seu partido não é um desses… Passou um carão em todo mundo que a andava patrulhando e adivinhando seu voto. Com ela, não!
Num Congresso em que as pessoas citam o pai, a mãe, a sogra e o papagaio, Tia Eron não se fez de rogada e avançou: foi mais ousada que Gabriel Chalita quando mistura Castro Alves com o assassinato de albinos na Tanzânia.
Tia Eron foi de Umberto Eco e Darcy Ribeiro. Em que momento esses dois autores se encontram no infinito? Bem, a resposta está dada. O Darcy, confesso, não percebi. O Eco fez eco numa hora em que ela lascou: “Esse colegiado precisa se ressignificar”. Era quase um poema concreto. Tia Eron ressignificava a ressignificação a serviço da incompreensão.
Tanto é que ninguém estava entendendo nada. Ao fim do voto, os partidários de Eduardo Cunha ficaram ainda mais perplexos. Parecia que ela iria dizer “não” ao relatório do deputado Marcos Rogério (DEM-RO) — afinal, referindo-se aos que monitoravam seu voto, disse: “Entenderam que de fato não mandam nessa nega aqui” —, mas acabou dizendo “sim”.
Os favoráveis ao texto aplaudiram; os cunhistas ficaram indignados.
Até ali, o que se esperava é que João Carlos Araújo (PR-BA), presidente do Conselho, tivesse de desempatar. Afinal, com o suposto voto de Tia Eron, chegar-se-ia aos 10 a 10. Mas Araújo pôde se abster, como costumam fazer os presidentes.
Por quê?
Mais inesperado do que o voto de Tia Eron foi o do deputado Wladimir Costa (SD-PA), um escudeiro fanático de Eduardo Cunha. Ele pertence ao Solidariedade, o partido comandado por Paulinho da Força (SP), uma espécie de porta-voz do presidente afastado da Câmara. Talvez ele fosse, até ali, o “não” mais certo ao relatório que se conhecia.
E, no entanto, surpreendeu e votou “sim”. Ao perceber que Tia Eron acabaria expondo ainda mais os favoráveis a Cunha, Costa mudou de lado. E não se preocupou nem em mudar a argumentação: argumentou a favor de Cunha e votou contra.
Manobra frustrada
Notem: dadas as regras atuais, o plenário da Câmara teria de votar qualquer que fosse o resultado, precisando de maioria absoluta (257 deputados) para cassar e para não cassar. Mas já havia uma artimanha em curso.
O resultado frustrou a manobra dos partidários de Cunha. O circo já tinha sido montado na Comissão de Constituição e Justiça, em que ele tem maioria. Qual era a ideia?
Se a turma tivesse conseguido derrotar o relatório, aprovar-se-ia uma pena alternativa: três meses de suspensão, por exemplo. Numa consulta, a CCJ diria que ao plenário caberia apenas endossar a punição alternativa ou minimizá-la, jamais agravá-la.
Mas Tia Eron acabou com a festa.
Tia Eron mitou e ressignificou.
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