Transe 1: Vazam informações que atingem Serra e Temer e que liquidam com Dilma
As placas tectônicas da política brasileira não vão parar tão cedo de se mover. Tratarei desse tema específico em outro comentário. Agora vamos ao terremoto deste fim de semana.
Manchete da Folha deste domingo informa que diretores da Odebrecht afirmaram, nas negociações para o acordo de delação premiada, que a campanha de José Serra (PSDB) à Presidência em 2010 recebeu R$ 23 milhões da empreiteira pelo caixa dois — parte do dinheiro teria sido depositada no exterior. Funcionários da companhia, segundo o jornal, devem relatar que, entre 2007 e 2010, intermediários do então governador teriam recebido propina derivada das obras do Rodoanel.
Em resposta enviada ao jornal, a assessoria do agora ministro das Relações Exteriores nega pagamentos irregulares e diz que os gastos de campanha eram de responsabilidade do partido. A mensagem qualifica de absurda a acusação do pagamento de propina e diz que, quando Serra chegou ao governo, o contrato com a empreiteira para a construção do Rodoanel já estava em vigência.
PMDB
Não é só. Reportagem da revista VEJA informa que diretores da mesma Odebrecht estariam dispostos a apresentar à força-tarefa documentos que comprovariam que a empreiteira entregou R$ 10 milhões em dinheiro vivo ao PMDB para a campanha de 2014.
O dinheiro teria sido pedido a Marcelo Odebrecht, então ainda na presidência do grupo, em jantar no Palácio do Jaburu, na presença de Michel Temer, vice-presidente então, e Eliseu Padilha, hoje ministro da Casa Civil. Um total de R$ 4 milhões teria sido repassado entre agosto e setembro de 2014; os outros R$ 6 milhões teriam chegado à legenda via Paulo Skaf. O site do TSE aponta que a Odebrecht doou ao PMDB R$ 11,3 milhões.
Dilma
Tudo isso, então, joga água no moinho de Dilma e do PT? Não parece. Outra reportagem da VEJA, intitulada, não por acaso, “A destruição de Dilma”, informa que João Santana e sua mulher, Mônica Moura, disseram à força-tarefa que a petista sempre soube do caixa dois. Mais do que isso: teria sido uma espécie de sua garantidora.
Em 2014, informa a revista, convidado pela então presidente a fazer a segunda campanha, Santana teria resistido, alegando justamente dificuldades de pagamento. Dilma teria garantido que dinheiro não seria problema e que ninguém menos do que Guido Mantega, então ministro da Fazenda, cuidaria da estrutura do caixa dois — em companhia de Antonio Palocci.
Segundo informa a revista, tal “tecnologia” teria sido exportada para a campanha de outros países. Da delação do casal, deve fazer parte a acusação de que a campanha de Nicolás Maduro, na Venezuela, também contou com caixa dois, alimentado pela Odebrecht e pela Andrade Gutierrez.
Vamos ver
Todas essas informações constariam ou de delações que já podem estar concluídas, ainda que não homologadas — como no caso de João Santana e Mônica Moura —, ou de delações ainda por fazer, a exemplo das dos diretores da Odebrecht. Obviamente, não basta a acusação. É preciso que se apresente alguma prova.
Mais: os pagamentos de propina, na sua forma clássica, deixam cicatrizes — por exemplo, contas no exterior recheadas com muitos milhões de dólares. A propina vertida na forma de doação oficial já é um capítulo bem mais delicado. É claro que se abrem flancos para duas coisas: 1) para o beneficiário dizer que não sabia que o dinheiro estava ancorado, sei lá, num superfaturamento; 2) para uma denúncia vazia, aí do eventual interesse do denunciante.
Seja como for, a política segue mergulhada no transe. O impeachment de Dilma no fim deste mês encerra um capítulo, mas a obra é longa e segue aberta, sendo escrita por narradores que também não sabem aonde querem chegar. Uma resposta errada, agora, pode nos jogar numa espiral negativa que, depois do roubo generalizado aos cofres públicos, vai nos roubar também o futuro.
É desse assunto que tratarei no comentário “TRANSE 2”.
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