Trump é assustadora escolha de quem não exige programa de governo, mas atitude
Superterça de eleições primárias em doze estados americanos foi super para a democrata Hillary Clinton e para o republicano Donald Trump. Tudo, é claro, menos eletrizante no lado democrata. O rival Bernie Sanders não tem chances para impedir a coroação da ex-primeira-dama como candidata democrata em novembro, mas ficará na maratona até onde tiver dinheiro e energia para vender sua agenda mais esquerdista
O que realmente espanta é o fenômeno Trump, o bilionário bufão que insulta meio mundo, na verdade quase todo mundo, e no entanto expande sua rede de seguidores. Sequer a polêmica para repudiar rapidamente e de forma explicita o endosso do ex-líder da Ku Klux Klan David Duke desacredita sua campanha. Com qualquer outro candidato seria o fim. E de pensar que há três meses, o maior guru eleitoral americano, Nate Silver, estimou que Trump tinha apenas 2% de chance de ser o candidato republicano.
Agora suas chances são cada vez maiores, quase inevitáveis, especialmente porque há divisões na oposição à sua ascensão. O ultraconservador senador texano Ted Cruz venceu as primárias no seu estado, um alívio. Uma derrota teria sido fatal para sua campanha. Já o senador Marco Rubio segue sem vitórias, mas segue na luta. Para ele convergem desesperadas as elites republicanas que ainda apostam e investem para que Trump não seja o homem do partido contra Hillary em novembro.
Em comício na noite de terça-feira em Miami, Hillary já direcionou seu fogo contra Trump, sinalizando o tom de sua campanha. Disse que Trump apela para e divide. Sem dúvida, mas Trump canaliza a fúria de uma ampla camada da população contra o que está aí. Ele não tem políticas de governo, tem uma atitude. E por ora isto serve para colecionar vitórias na corrida das primárias.
Também na Flórida, Trump contra-atacou, dizendo que Hillary é o continuísmo do desastre do governo Obama, ridicularizou Marco Rubio e desferiu os torpedos habituais contra China e México, no tom protecionista e ufanista de sua campanha.
Trump me assusta, mas não posso negar a realidade. Seu poder demagógico é imenso, com promessas que não serão cumpridas, como de construir um muro na fronteira mexicana e obrigar o vizinho a pagar ou ser capaz de unificar o país. No então, ele caminha para a ser a escolha de uma parcela do país, uma parcela que não exige um programa de governo, mas, como eu disse, uma atitude.
Trump não decepciona.
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