Trump é fator novo na guerra entre Ucrânia e Rússia
Acredito ser saudável ter uma obsessão jornalística com Donald Trump. Algo natural pela figura em si e cada vez mais por sua importância global. Mas, tenho outras obsessões no meu trabalho e uma delas é a Ucrânia, cada vez mais velha de guerra desde a agressão de Vladimir Putin em 2014, com a anexação da Crimeia e o patrocínio de separatistas no leste do país.
Com mais um cessar-fogo em vigor, os combates tinham amainado entre as forças governamentais e os rebeldes. No entanto, eles recrudesceram nos últimos dias e justamente na quarta-feira, a Ucrânia assumiu a presidência rotativa do Conselho de Segurança da ONU (o país é membro não permanente).
Com isso, a guerra civil (e de Vladimir Putin também) ganha destaque na pauta do Conselho de Segurança, aquele em que a Rússia tem poder de veto. Esta semana, o presidente Petro Poroshenko encurtou uma viagem à Alemanha devido aos combates no fim de semana perto da fronteira russa, que deixaram sete soldados governamentais mortos.
Para a população civil na zona de combate é aflição de falta de eletricidade, água e aquecimento, com a temperatura na faixa dos 20 graus negativos (lembram-se? Frente Russa). Nenhuma surpresa que os dois lados troquem acusações sobre quem provocou a nova escalada, um padrão neste conflito que deixou quase 10 mil mortos desde o começo de 2014.
O fator novo obviamente é Trump (perdão, impossível ignorá-lo em 2017). Camarada com Putin, o novo presidente americano causa especial apreensão em Kiev. Há o temor de que ele apronte alguma armação com Putin para suspender sanções contra a Rússia em troca de apoio na luta contra o terror islâmico ou a promessa do ex-coronel da KGB de que ele irá conter o seu entusiasmo com novas agressões na Europa Oriental.
Naquelas bandas da Europa Oriental, não se acredita em promessa de Putin. Embora ele esteja em evidência por segurar a barra do ditador Bashar Assad na guerra civil síria e pela intromissão na eleição americana de 2016, o que acontece na Ucrânia reaviva a memória de que o ex-coronel da KGB ainda é a maior ameaça na sua própria vizinhança.
Assim como em Kiev, em capitais de países da região, como a Polônia e as pequenas nações bálticas existe apreensão com os planos de Trump, que caracteriza como “obsoleta”, a Otan, a aliança militar ocidental da qual eles são integrantes.
Incertos sobre o futuro, estes países promovem a criação de milícias civis para conter o que a Polônia define como “intenções agressivas da Rússia”. Se as coisas fugirem ao controle, poderemos vislumbrar uma ampla frente russa.
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