Trump quer transformar a política americana em um mero reality-show

  • Por Caio Blinder/Jovem Pan Nova Iorque
  • 01/10/2016 10h57
EFE Donald Trump - EFE

Viver fora do Brasil dá saudades da pátria desalmada, mas tem suas vantagens. Uma delas: estar isento de votar em eleições não presidenciais. Escapei de fazer escolhas ou de cravar o meu voto útil nas eleições municipais deste domingo em São Paulo, minha última zona eleitoral no Brasil antes da transferência do meu título para Nova York, onde apenas voto em eleições presidenciais.

Na verdade, vivendo tanto tempo fora do Brasil, meu interesse pela jogatina eleitoral é limitado, especiamente quando o picadeiro é local e não presidencial. Sigo mais por obrigação profissional e nunca deixo de me espantar com o que acontece na minha cidade natal. Imagine, a última vez que votei para prefeito em casa foi em 1985, vitória de Jânio Quadros. Por esta razão, raramente me ufano dos prefeitos da minha cidade natal.

Alguns vão rebater: puxa, Caio, cuspindo no prato em que você comeu? Olhe aí onde você mora! Quem eventualmente me rebate tem inteira razão. Este é um dos momentos mais vergonhosos na história eleitoral americana, com a altíssima taxa desfavorável de Donald Trump e Hillary Clinton. De novo, insisto: Trump é muito pior. Além de sem-vergonha, ele é emocionalmente instável para estar a cargo dos códigos nucleares. Se eleito, será um perigo para a segurança dos Estados Unidos e do planetinha.

Ian Bremmer, meu guru de geopolítica, chefão da empresa de consultoria de risco Eurasia, disparou um desalentado tuíte na sexta-feira. Em nome do povo americano, ele pediu desculpas pelo grotesco espetáculo eleitoral nos EUA. As mentiras são deslavadas e Trump é campeão indiscutível. O duelo está uma baixaria com o festival de insultos que ele vomita não apenas contra Hillary, mas contra qualquer um no seu caminho.

A vítima da semana é Alicia Machado, ex-Miss Universo. Bom para Hillary, pois ela garante mais votos de mulheres e de latinas. Alicia nascida na Venezuela, agora é cidadã americana e faz campanha pela candidata democrata. Basicamente, Trump revisita os tempos em que cuidava do concurso de Miss Universo. Há 20 anos, ele humilhou a então adolescente Alicia que ganhou peso após ser coroada.

Tudo isso me leva a especular sobre o plano secreto de Trump. No final das contas ele quer transformar a política americana em um mero reality-show e aí licenciar o produto. Brasil pode ser um ótimo mercado.

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