Trump tem razão quando diz que vitória de Hillary ameaça 3ª Guerra Mundial?
Donald Trump dispara tuítes, insultos e sandices, mas eu vou fazer uma pausa e refletir sobre o que o candidato republicano disse em uma entrevista esta semana à agência Reuters. Trump advertiu que a vitória de Hillary Clinton em 8 de novembro pode resultar na Terceira Guerra Mundial.
O motivo? O desafio a Vladimir Putin na guerra civil síria com a implantação de uma zona de exclusão aérea e áreas seguras no solo. Tradução: uma ação mais vigorosa dos EUA para impedir que aviões russos, a serviço da ditadura de Bashar Assad bombardeiem áreas sob controle rebelde, em operacões em que não há distinção entre alvos militares e população civil.
O alvo preferencial russo é Aleppo. Em reportagem de capa na quarta-feira, o Walll Street Journal lembrou a observação do secretário de Estado americano John Kerry de que Putin se comporta em Aleppo, como os romanos em Cartago, arrasada em 146 A.C.
A posição de Trump é clara: apaziguamento em relação a Putin e a Assad. Por ele, os dois podem fazer o que bem entenderem na Síria. Mas, de fato, embora de forma não tão crua, o governo de Obama também tem uma política de apaziguamento e nunca se desdobrou para apoiar rebeldes na Síria, abrindo espaço para a atuação agrerssiva de Putin e a sobrevida de Assad.
O chefe do Estado-Maior das Forças Armadas dos EUA, general Joseph Dunford, disse em audiência no Congresso em setembro que a implantação de uma zona de exclusão aérea é inviável, pois exigiria “que os EUA fossem à guerra contra a Siria e a Rússia para controlar o espaço aéreo do país”.
E esta semana, o jornal The Guardian, partidário de Hillary, publicou reportagem alarmista, na qual militares americanos (da ativa e da reserva) alertam que a proposta da candidata democrata “pode levar a um confronto militar com a Rússia, que poderia escalar a níveis que eram previamente impensáveis no mundo pós-Guerra Fria”.
Sem dúvida, há riscos, embora seja alarmista falar em Terceira Guerra Mundial. Também é exagero o bordão da campanha de Hillary chamando Trump de “marionete” de Putin. Concordo que o candidato republicano acaba fazendo o jogo de Moscou com sua política externa que mistura isolacionismo, incoerência e mera ignorância. Pela gororoba que seria um governo Trump, já seria lucro para Putin.
O sensato é esperar que Hillary Clinton assuma o cargo de presidente em 20 de janeiro próximo, mas devemos levar em conta os riscos e os dilemas de um política mais agressiva de um novo governo americano em relação ao de Obama. A Síria é um teste inglório sobre dilemas estratégicos e morais para o Ocidente.
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.