TSE apura doação a Dilma a pedido do PSDB, mas Aécio vira o alvo!

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 03/03/2017 10h43
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Senador Aécio Neves (PSDB-MG) concede entrevista antes da abertura da sessão deliberativa extraordinária que trata do julgamento do processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff por suposto crime de responsabilidade. Foto: Geraldo Magela/Agência Senado Geraldo Magela/Agência Senado Aécio neves - Ag. Senado

Um dos aspectos fabulosos do que está em curso no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é que os depoimentos são duplamente sigilosos. Há o primeiro sigilo, o das delações, ainda resguardado pelo Supremo, e há o sigilo dos depoimentos prestados ao TSE propriamente. Não obstante, fragmentos do que disseram, ou teriam dito, os depoentes estão em toda parte. O que foi decidido por dois tribunais superiores é letra morta.

É assim que muitos acham que vamos chegar a um país melhor. Tomara que sim! As consequências, claro!, não poderiam ser piores. As expectativas vão se deteriorando sempre. Lula, Dilma e a petezada continuam em maus lençóis. Mas, curiosamente, nunca estiveram tão bem desde ao menos o impeachment. Fica para outro texto.

Aécio Neves, por exemplo, presidente do PSDB, havia se saído bem do depoimento de Marcelo Odebrecht, prestado anteontem, ao ministro Herman Benjamin. O empresário afirmou que o senador lhe pedira, sim, R$ 15 milhões ao fim do primeiro turno para a sua própria campanha e a de aliados, mas que a doação não aconteceu. O empreiteiro disse não se lembrar de transferências aos tucanos pelo caixa dois. Segundo registro do TSE, a campanha de Aécio à Presidência recebeu, legalmente, em 2014, R$ 3,9 milhões da Odebrecht e R$ 3,9 milhões da Braskem. O partido como um todo confirmou ter recebido R$ 15 milhões do grupo.

Mas durou pouco o “nada consta” do ex-comandante do grupo. Aquela negativa de Marcelo viria a ser suplantada no noticiário pelo depoimento de Benedicto Júnior, ex-presidente da Construtora Odebrecht, segundo o qual R$ 9 milhões, pelo caixa dois, foram repassados ao PSDB e ao PP a pedido de… Aécio, ainda que Júnior sustente não ter tratado de valores com o mineiro. O dinheiro teria sido assim distribuído: R$ 6 milhões divididos entre as candidaturas dos tucanos Antonio Anastasia (ao Senado) e Pimenta da Veiga (ao governo de Minas) e de Dimas Fabiano Toledo Júnior, que disputou uma vaga na Câmara pelo PP. Do trio, só Pimenta não se elegeu. Os R$ 3 milhões restantes teriam sido enviados a Paulo Vasconcelos, marqueteiro de Aécio na campanha de 2014.

Ouvido a respeito, Aécio negou doações pelo caixa dois e evocou o depoimento do próprio Marcelo Odebrecht, que, obviamente, contraria o de seu ex-subordinado. Bem, todos fizeram delação premiada e, suponho, estão dizendo ao TSE o que disseram à força-tarefa. Sim, quando Benedicto Júnior enveredou para falar sobre a doação a Aécio, o ministro Benjamin interveio porque, afinal, isso é estranho ao processo que está em curso no tribunal — movido pelo PSDB, diga-se. Mas e daí? O estrago já estava feito.

Estrago? Que estrago? Estrago só porque as coisas complicam a situação dos tucanos? Ocorre que, do ponto de vista legal, no TSE, tanto o depoimento de Marcelo como o de Benedito Júnior são inócuos. E por quê? Porque o processo no qual depõem investiga abuso de poder político e econômico cometido pela chapa que elegeu Dilma-Temer. Processo que, reitere-se, foi aberto por provocação dos próprios tucanos.

Observem: a Procuradoria-Geral da República ainda vai decidir o que fazer com o conteúdo das delações que dizem respeito a quem tem foro especial. Esses são outros quinhentos. No processo ora em curso no TSE, vejam que fabuloso!, o ministro Herman Benjamin decidiu ouvir delatores da Lava Jato para saber eventuais detalhes de doações irregulares à chapa que elegeu Dilma, e quem ficou na berlinda foi o presidente do PSDB, que não é investigado nesse caso.

Não é mesmo o estado da arte do estado de direito?

Ah, sim: que se investigue todo mundo e que todos os que tiverem culpa paguem caro, políticos ou empresários. Mas conviria um pouco mais de disciplina, não é?

Moral da história da justiça que se anda a praticar por aqui: não denuncie abuso de poder do seu adversário. A vítima pode ser você.

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