A Turquia na linha de fogo cruzado entre ocidente e oriente
A Turquia é um país com uma posição estratégica singular. Tem um pé na Europa e o outro na Ásia. Sua maior cidade, Istambul, um referencial de várias civilizações e culturas, tem esta posição singular. E o atentado de terça-feira no coração histórico de Istambul, atribuído ao movimento Estado Islâmico, confirmou não apenas a posição estratégica, mas a posição precária da Turquia em várias crises, como a combate ao terror, a guerra civil síria e o desafio dos refugiados.
O país está na linha de frente crescente confronto entre o Estado Islâmico e países ocidentais e árabes. Emblemático que a maioria das vítimas no atentado de terça-feira tenham sido turistas alemães. No ano passado, já ocorreram atentados suicidas na Turquia atribuídos ao Estado Islâmico.
Mas mesmo com a Turquia cada vez mais engolfada na linha de fogo da guerra civil na Síria, que tem parte do seu território ocupado pelo terror islâmico, o beligerante e colérico presidente turco Recep Erdogan está mais preocupado em lutar contra os curdos, a minoria espalhada por vários países da região, inclusive a Turquia. O foco das eleições gerais na Turquia no ano passado para o partido governista foi justamente o combate a autonomistas curdos.
Basta ver que no domingo, dois días antes do atentado em Istambul, o principal assunto de uma reunião do Partido da Justiça e Desenvolvimento era a missão redobrada das forças de segurança contra os curdos. E que esta campanha vai continuar de forma indefinida.
A obsessão de Erdogan é tão grande, que quando mais de 100 pessoas morreram em dois atentados suicidas na capital Ankara, em outubro, em sua maioria curdos, ele disse que fora uma ação conjunta do Estado Islâmico e de um grupo radical curdo.
O mesmo absurdo não está sendo praticado agora. O governo foi categórico para acusar o terror islâmico, sem envolver os curdos. Vamos ver se agora o governo turco finalmente acorde para o perigo do Estado Islâmico, reconhecendo que ele deve ser o alvo e não mais os curdos na Turquia ou os curdos na Síria que combatem tanto o terror islâmico como a ditadura de Bashar Assad.
O governo turco, sob pressão de Washington, já permite que aviões americanos usem bases no país para atacarem o Estado Islâmico na Síria. Com o atentado de terça-feira em Istambul, a expectativa é de que a Turquia assuma um papel mais ativo na luta contra o Estado Islâmico. A menor cumplicidade já resultou em atentados como o de terça-feira. Podemos esperar uma escalada de terrorismo e de retaliações turcas.
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