Um partido republicano rasgado

  • Por Caio Blinder
  • 08/07/2016 11h08
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EFE Paul Ryan

O republicano Paul Ryan é o presidente da Câmara dos Deputados dos EUA. Calma, eu não tenho um furo fulminante. Ryan não está para renunciar como o já vai tarde Eduardo Cunha. Tampouco está lacrimejante (quem sabe lá no fundo da alma), embora Donald Trump seja de chorar.

Pobre Paul. Sua vida é uma agonia. Ele é a imagem de desolação. Deve matutar a cada dia como entrou nesta enrascada de aceitar o cargo e mediar as várias milícias do Partido Republicano, além de guerrear com os inimigos da minoria democrata.

Com 46 anos, Ryan é um republicano da velha escola (tudo é clássico se a gente comparar com o furacão Trump). Ele segue a cartilha conservadora pela qual o partido costumava rezar: governo enxuto, corte de impostos para os ricos, corte de gastos públicos (mas com o esforço para abraçar minorias), livre comércio e preservação das alianças internacionais dos EUA.

Ryan é um garotão estudioso. Promissor, foi vice do derrotado Mitt Romney na eleição presidencial de 2012.  Ah, sim, e considera essencial manter um certo decoro no exercício da função pública, ao contrário de Mr. Trump.

O político sabia que era missão quixotesca converter o candidato presidencial do partido à crença tradicional dos republicanos. Impossível domar a fera, que atua solo e espera vassalagem do partido quando esbraveja contra o livre comércio, latinos e muçulmanos. Este nobre republicano, então, foi forçado, após um falso suspense, a endossar Trump, mas é muito comum este apoio ser adjetivado como tépido.

E com as barbaridades, travessuras e improvisos circenses do bilionário, Ryan é obrigado a dar alfinetadas na fera topetuda. Somente esta semana foram duas. A primeira, quando Trump tuitou um ataque contra a “corrupta” Hillary Clinton, ilustrado por uma estrela de seis pontas (associada à de David) e pilhas de dinheiro. O parlamentar lamentou o uso de imagens antissemitas e, em seguida, quando o magnata elogiou o “bom torturador” Saddam Hussein.

O muro de lamentações de Ryan está cheio de rachaduras. Para ele, é deplorável que Trump use imagens antissemitas e elogie Saddam, mas Hillary Clinton é ainda mais deplorável. Logo, ele ainda prefere o presidenciável de seu partido.

Não dá para imaginar o deputado participando de algum golpe na convenção republicana (que começa no próximo dia 18), mas ele está consciente que seu presidenciável é um desastre como candidato e para os princípios tradicionais do partido.

Ryan não vai renunciar ao cargo de presidente de Câmara, mas, depois do desastre Trump, caberá a ele remendar uma legenda rasgada e, provavelmente, costurar sua candidatura presidencial para 2020.

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