Um príncipe da Jordânia, Donald Trump, seus cabelos e eu

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 13/10/2016 08h04

Zeid Ra’ad Zeid Al-Hussein EFE/Martial Trezzini Zeid Ra’ad Zeid Al-Hussein

Há coisas que são realmente do balacobaco!

Em tese, a ONU resolveu dar pitaco na eleição à Presidência dos Estados Unidos. Mas terá sido mesmo a entidade? Vamos ver.

O alto comissário das Nações Unidas para Direitos Humanos, Zeid Al-Hussein, disse nesta quarta, em Genebra, na Suíça, que a vitória do republicano Donald Trump seria “perturbadora”.

Para ele, Trump será um “perigo” para o mundo se for eleito presidente dos Estados Unidos, pois suas propostas representam “violações aos direitos humanos dos mais vulneráveis”.

As declarações de Al-Hussein rompem um limite da organização, que consiste em evitar a qualquer custo comentários sobre a política interna dos países membros — desde, claro, que elas não estejam imbricadas com ações concretas que a envolvam. As declarações Al-Hussein foram concedidas em um encontro com jornalistas de vários países.

É um despropósito? É claro que é.

Se eu fosse americano, seria, em regra, republicano. E já há muito tempo. Nas eleições vindouras, no entanto, votaria em Hillary Clinton, a mais fraca e vulnerável candidata democrata em muito tempo, para dar a minha contribuição pessoal ao esforço de evitar que Donald Trump chegasse à Casa Branca.

Quando faço graça a respeito, digo que jamais votaria em alguém que tem aquele cabelo. Mas posso saltar o muro da pilhéria com a mesma imagem: ter ou não aquele cabelo não define um caráter e uma competência. Mas só gente com determinadas características mantém aquele cabelo. Entenderam a sutileza? É preciso não ter noção de limites. É preciso não ter senso de ridículo. É preciso não ter receio de chocar.

E, bem, essas não são características exatamente adequadas à Casa Branca. Assim, meu querido leitor, cabelo não é categoria de pensamento, mas pode ser um indício importante das ideias que vão por baixo dele.

Outro dia, recebi um texto de um teórico de esquerda fascinado por mim, às avessas. Dizia ele que me esmero na crítica a caraterísticas físicas de eventuais adversários. Errado. Parafraseando, digo que só sou prudente o bastante para levar em consideração a minha primeira impressão. Não é a última palavra. Mas é um começo. Sigamos.

Dito isso, agora quero falar do sr. Zeid Al-Hussein, um príncipe, ora vejam!, da Jordânia! A mãe é sueca. O pai dele se considera herdeiro da Casa Imperial da Síria e do Iraque… Então tá.

A Jordânia é uma monarquia absolutista — quer dizer, uma ditadura, ainda que se queria fingir de liberalizante. Ditadores e seus asseclas têm especial atração por organismos que representam direitos humanos.

É de uma ousadia estúpida da ONU o representante de uma ditadura ser o alto comissário para direitos humanos. E é uma estupidez ousada este senhor se atrever a tecer comentários sobre as eleições daquela que é a mais poderosa democracia do planeta. Sim, sim, sim, eu sei: a Jordânia é aliada na luta contra o terrorismo — lá à moda como países árabes costumam ser aliados nesses casos…

Mas não vá o príncipe além de suas sandálias douradas dar pitaco na eleição dos EUA, mesmo quando há o risco (cada vez menor, felizmente) se se eleger alguém com aquele cabelo e com aquelas ideias por baixo dele.

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