A única e remota chance de Cunha reside no medo de seus pares

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 08/09/2016 07h59
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Brasília - O presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), renunciou há pouco à presidência da Casa (Marcelo Camargo/Agência Brasil) Marcelo Camargo/Agência Brasil Eduarod Cunha

E o deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) vai sentindo o gosto que tem o abandono. Ele pode telefonar para a ex-presidente Dilma Rousseff e perguntar como é isso. Ela enfrentou seus dias horríveis gritando: “É golpe! É golpe!” Ele tenta desesperadamente apontar ilegalidades no longuíssimo processo que deve resultar na sua cassação, mas, como é evidente, só os seus últimos fanáticos lhe dão bola.

Segundo levantamentos feitos pela Folha e pelo Globo, 238 deputados já dizem abertamente que votarão em favor do relatório — vale dizer: em favor da cassação, que precisa contar com o apoio de pelos menos 257 parlamentares: metade mais um do total de deputados. Faltariam, pois, a estar certa essa contagem, míseros 19 votos.

Explica-se: os 238 se contam entre os partidos que asseguram que votarão unanimemente pela cassação, a saber: PT, PSDB, PSB, DEM, PRB, PDT, PC do B, PPS, PSOL e Rede. A ser assim, não será difícil conseguir o número que falta no próprio PMDB, partido de Cunha, e nas legendas que compõem o Centrão: PSD, PR, PP, PTB e PRB. Só está última legenda conta com 22 votos, que devem ser majoritariamente dados em favor da cassação.

A votação está marcada para segunda-feira. v. Poucas pessoas apostam nisso. Seus aliados ainda falam numa pena alternativa. A questão é saber que caminho poderia ser usado para isso, uma vez que o relatório do Conselho de Ética tem de ter votado. Os deputados têm de dizer “sim” ou “não” ao texto, que defende a cassação.

Depois da sem-vergonhice a que se assistiu no Senado, patrocinada por Ricardo Lewandowski, que fatiou a votação e preservou os direitos políticos de Dilma, diz-se por aí que tudo seria permitido. Afinal, um eventual atropelo nas regras da Câmara acabaria levando a coisa para o Supremo, que ficaria sem moral para recusar um expediente inconstitucional. Não creio que se chegue a tal disparate.

Há mais: um presidente da República cassado por crime de responsabilidade se torna inelegível pela Constituição mesmo — que Lewandowski resolveu ignorar —, mas não pela Lei da Ficha Limpa. Com os demais cargos eletivos, a coisa é diferente: os cassados se tornam inelegíveis por essa lei. E ponto final.

Cunha, como de hábito, resistirá até o último homem. É de sua natureza. Mas, tudo indica, as possibilidades de se salvar são remotas. Para ele, como político, será o fim da linha, mas pode ser o começo do pesadelo para muita gente.

Sem foro especial, o homem vai cair lá na Vara de Sérgio Moro. Nem estou me referindo ao fato de o juiz ser mais rigoroso ou menos. É claro que uma preventiva sempre pode rolar por ali, como sabemos. Mas o que eleva a tensão de muitos políticos não é isso, não. Cunha se torna, assim, uma espécie de objeto de desejo para uma megadelação premiada. Depois de sua resistência quase épica, imaginem quantas cabeças ele teria de entregar para saciar a sede dos procuradores. Seria uma delação “Arrasa-Brasília”.

Eis aí: a única e remota chance de Cunha reside, na verdade, no medo de seus pares.

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