Vale-tudo: Cunha quer trocar aceitação da denúncia contra Dilma por apoio. Nem a pau, Juvenal!

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 25/11/2015 14h04
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Brasília - O PSDB protocola novo pedido de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff e entrega ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (Antonio Cruz/Agência Brasil) Antonio Cruz/Agência Brasil Partidos de oposição entregaram ao presidente da Câmara

O deputado federal Paulinho da Força (SDD-SP) procurou membros da oposição, como emissário de Eduardo Cunha (o que este nega), com uma proposta asquerosa: o presidente da Câmara aceitaria a denúncia contra Dilma Rousseff, e os oposicionistas do Conselho de Ética rejeitariam a continuidade do processo contra ele. Com o mandato salvo, Cunha renunciaria ao comando da Casa.

É uma proposta asquerosa!

Já citei aqui um verso do grande poeta Bruno Tolentino, de uma dos sonetos do livro “A Imitação do Amanhecer”: “A arte não tem escrúpulos, tem apenas medida”. De certo modo, vale para a política, desde que não se entenda por escrúpulo, ou a falta dele, meter a mão no bolso alheio ou praticar crimes outros.

A política não precisa ter escrúpulo no seguinte sentido: adversários podem conversar; posições aparentemente inconciliáveis, desde que não se negociem imperativos éticos, podem encontrar um lugar de convergência. Cito dois exemplos clássicos: a Espanha, na transição do franquismo para a democracia, e a África do Sul, ao pôr fim ao regime de apartheid. O que não tem escrúpulo, no sentido de que trato, não pode, no entanto, abrir mão da medida. É preciso saber o limite que não pode ser atravessado: na arte, na política, na vida.

“Eu não participo de nenhum acordo e não discuti acordo com quem quer que seja. Comigo, ninguém conversou, nem autorizei ninguém a falar em meu nome sobre qualquer coisa. Se isso é verdade, propagaram uma mentira.”

Quem fez essa afirmação foi o próprio Cunha. Bem, ultimamente, cumpre ouvir com cuidados os seus juramentos, não é mesmo? Fosse como ele diz, então que puxasse a orelha de Paulinho, já que vários interlocutores da oposição confirmam a abordagem. Todos sabem que, nessa questão, Paulinho nunca agiu por conta própria.

É claro que se trata de uma proposta indecorosa, inaceitável. A única negociação que a oposição pode empreender com Cunha agora é a sua saída da Presidência da Câmara. O deputado insiste em tomar a sua história pessoal e o seu destino pela história do país e seu futuro. Uma oposição que aceitasse negociar nesses termos o impeachment de um presidente da República teria perdido toda a dignidade.

Não é assim, não! Sim, enquanto as evidências contra Cunha não estavam dadas, eu mesmo defendi que os oposicionistas deveriam conversar com ele — o escrúpulo, da forma como abordei aqui, só era útil ao PT. Mas sempre foi necessário ter medida.

Cunha exerce o papel institucional de presidente da Câmara. E era preciso manter a interlocução com ele, enquanto havia condições de continuar nesse cargo. Hoje, lamento, não tem mais. Não, senhores! Por mais que o impeachment de Dilma seja importante para o país; por mais que eu ache que o Brasil continuará a patinar enquanto ela se mantiver na Presidência; por mais convencido que eu esteja, e estou, de que ela cometeu crime de responsabilidade, a despeito de tudo isso, digo com clareza: EIS UMA NEGOCIAÇÃO QUE NÃO PODE SER FEITA! E ESTOU CERTO DE QUE NÃO SERÁ FEITA.

Vamos fazer assim: Cunha passou a ser um problema do PT. Eles que se vierem lá. Pra começo de conversa, ainda que o deputado rejeite a denúncia apresentada por Hélio Bicudo, Janaina Paschoal e Miguel Reale Jr., outras petições podem ser feitas no futuro. Não nos esqueçamos de que restam a Dilma ainda três anos de mandato. Além da vontade Brasília, a crise econômica, e há as ruas.

A proposta de Paulinho é degradante. Evidencia, já que acredito que ele falava com a delegação de Cunha, o desespero a que chegou o deputado peemedebista. Ele sabe que não há como o Conselho de Ética não levar a denúncia ao plenário. E sabe também que o voto é aberto. A chance de ser cassado é gigantesca — e, aí, seu caso migraria para Sergio Moro.

Na reunião de líderes desta terça, José Guimarães defendeu abertamente Cunha, observando que ele conserva a legitimidade para ser presidente da Câmara. Para este gênio da raça, a oposição quer apenas paralisar o governo.

É isto! Cunha é um homem “deles”. Que se virem. Quanto a Paulinho, dizer o quê? Ele deveria ser mais respeitoso com a oposição, com o país e até consigo mesmo.

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