Vaza conversa do presidente. É coisa de monge franciscano. É um cala-boca na marcha da irresponsabilidade

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 30/11/2016 10h46
Beto Barata/PR Michel Temer e Marcelo Calero durante posse do novo ministro da Cultura (Foto: PR)

Bem, meus caros, como vocês sabem, defendi que viessem logo a público as tais conversas gravadas por Marcelo Calero, ex-ministro da Cultura. Por quê? Porque a transparência, dentro das regras legais, sem trapaça, é sempre melhor do que a opacidade. Não conhecemos ainda todas as conversas. Mas duas das que vazaram indicam que o presidente Michel Temer se comportou como um monge. E não! Não era um  daqueles monges de Eça de Queirós.

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Não há absolutamente nada na conversa que atinja a reputação do presidente. Mesmo quando a ela se dá com Gustavo Rocha, secretário de Assuntos Jurídicos da Casa Civil, nota-se que o comportamento é protocolar: enviar a questão à AGU e pronto, o que nem chegou a ser feito. Não se pede absolutamente nada de irregular a Calero. Vamos ver.

Marcelo Calero: Oi, presidente.

Michel Temer: Oba. Oi, Marcelo, tudo bem, Calero?

Marcelo Calero: Como vai o senhor, tudo bem?

Michel Temer: Bem, graças a Deus.

Marcelo Calero: Maravilha.

Michel Temer: Então…

Marcelo Calero: Eu fiz uma reflexão muito grande de ontem pra hoje e agradeço…

Michel Temer: Pois não…

Marcelo Calero: … muito por o… por senhor ter insistido, mas eu realmente…

Michel Temer: …Hum…

Marcelo Calero: …quero pedir minha demissão e quero que o senhor aceite, por gentileza, porque eu não me vejo mais com… com condições e espaço de estar no governo.

Michel Temer: Interessante.

Marcelo Calero: É… então, assim…

Michel Temer: Tudo bem. Se você não… se é sua decisão, viu, o Calero, tem que respeitar. Ontem acho que até fui um pouco inconveniente, né? Insistindo muito pra você… pra você permanecer é.. confesso que não vejo razão pra isso mas você terá as suas razões.

Marcelo Calero: Sem dúvida.

No diálogo abaixo, o secretário de Assuntos Jurídicos da Casa Civil, Gustavo Rocha, discute com Calero a situação do imóvel de Geddel.

Gustavo Rocha: É, eu… eu tô te ligando que… é… eu tô dando entrada com pedido protocolar. [Vou] protocolar o recurso lá no Iphan.

Marcelo Calero: Tá.

Gustavo Rocha: Vou protocolar uma cópia aí.

Marcelo Calero: Tá. Mas eu… eu… eu até falei com o presidente, Gustavo, eu não quero me meter nessa história não.

Gustavo Rocha: É, e o que ele me falou pra… pra falar era, “veja se ele encaminha, e num precisa fazer nada, encaminha pra AGU”. Falou isso comigo ontem, né? Aí eu falei “não, eu falo isso com ele”.

Marcelo Calero: Bom… tá, eu vou… eu vou fazer uma reflexão aqui, Gustavo. Agora, mudando de assunto, Ancine, é… eu pedi uma correção pro texto que me chegou hoje de manhã e… eu tô dependendo da velocidade aqui do nosso jurídico…

Após a divulgação da transcrição, a Casa Civil emitiu a seguinte nota de Gustavo Rocha: “Na conversa com o ex-ministro da Cultura, Marcelo Calero, somente disse que iria encaminhar recurso ao Iphan, de autoria de outro advogado, que fora deixado equivocadamente em meu gabinete. O ministro havia dito que não tomaria nenhuma decisão, mesmo tendo competência para isso. Por isso, usei a expressão ‘dando entrada’. Contudo, jamais se deu seguimento a tal ação, já que o recurso foi devolvido a seu autor”.

Vamos ver
Há uma marcha da irresponsabilidade e da crispação retórica. As esquerdas boçais e a extrema direita delirante resolveram se unir para derrubar o governo Temer. Como sempre, o caos interessa aos dois grupos.

Infelizmente, alguns inocentes úteis estão sendo capturados — ou já foram — por maus conselheiros. A alguns, a bagunça é útil inclusive ao ambiente de negócios: afinal, negociam tudo, inclusive a institucionalidade. A outros, interessa se comportar como profetas do caos.

Este blog, como sabem, não perde a linha: seja com petistas, tucanos, peemedebistas, guelfos, gibelinos, gregos ou troianos, tem um norte: a legalidade.

Para encerrar
Vejam o caso da tal anistia, com que se tentou pintar um cenário de fim de mundo. A anistia que nunca existiu, como vocês sabem, não existirá. Os que insistiram nisso queriam era jogar o povo contra o Congresso. Há deputados por lá querendo fazer safadeza. Há. Mas safados há em todo lugar. Ou será o Ministério Público, o jornalismo e os movimentos sociais ou de rua (como queiram) são compostos só de santos?

Que tal a gente pensar nas instituições primeiro, hein? Que tal defender o estado de direito e repudiar os arroubos de autoritarismo ou de sem-vergonhice, partam de onde partirem?

Ainda voltarei a este assunto muitas vezes.

Pronto! Eis aí por que a extrema esquerda e a extrema direita estão gritando “Fora Temer”, “Fora Congresso”, “Viva o fim do mundo!”

Bando de oportunistas e de irresponsáveis.

Quem quiser e achar bom já sabe o caminho: pode marchar com eles.

Eu não vou.

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