Vexame! Defensores da privatização perversa de SP carregaram Haddad nos ombros

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 10/10/2016 09h10

Militantes do PT e simpatizantes do prefeito de São Paulo Divulgação/PT.ogr.br AE - Militantes do PT e simpatizantes do prefeito de São Paulo

Um evento curioso se deu neste domingo na Avenida Paulista, em São Paulo: algumas centenas de pessoas se reuniram para saudar o prefeito Fernando Haddad (PT). Sei lá: talvez se tenha inaugurado algo realmente inédito na história da política: a comemoração da derrota. Ok. Os petistas têm todo o direito de saudar o chefe do Executivo municipal, que está se despedindo da administração. O que me chamou atenção foram os termos empregados, a “pegada”, inclusive a do próprio prefeito.

No palanque, Haddad bradou, numa referência direta a João Doria (PSDB), o prefeito eleito: “Não precisamos de mais espaços privados, mas de mais espaços públicos. São Paulo não está à venda”. E mais adiante: “São Paulo não precisa de praia. A Paulista é a nossa praia. As 32 ruas abertas são a nossa praia. Nós provamos que não queremos ficar enclausurados em shopping centers”.

Vá lá… O prefeito tem a sua graça involuntária, né? É uma estupidez dizer que São Paulo “não precisa de praia”. O fato é que São Paulo, infelizmente, não tem praia. Ou que mal ela poderia nos fazer? Mas deixo a bobagem de lado para entrar no mérito político do ato. Se notaram, o prefeito e seus seguidores pretendem, então, fazer um debate entre dois valores que supostamente estariam ou estiveram em disputa: o público X o privado.

Fosse assim — e ainda bem que os esquerdistas mentem —, então “o público”, que eles representariam, teria perdido feio, levado uma lavada histórica, humilhante, como nunca antes na história “destepaiz”, como costumava dizer aquele finado líder popular. Então é Haddad e o PT que representam o público? Com miseráveis 16,7% do eleitorado?

Atenção! Desde a volta da eleição direta para a Prefeitura de São Paulo, o PT nunca teve tão pouco voto como neste 2016, seja em números absolutos, seja em números relativos. Em 1988, ainda sem a existência de segundo turno, Luíiza Erundina foi eleita com 29,84% dos votos válidos — ou 1.534.592. Vinte e oito anos depois, Haddad obteve 967.190, ou 567.402 a menos. Mais: desde que há segundo turno no pleito municipal, em 1992, jamais se definiu uma eleição em primeiro turno, e o PT esteve todas as vezes na disputa final. O recorde de votos do partido no primeiro turno se deu em 2004, quando Marta conquistou 2.209.264 votos — mesmo assim, ela foi derrotada no segundo pelo tucano José Serra.

O que quero dizer com isso? O que se deu em São Paulo neste 2016 foi uma espécie de síntese da catástrofe que colheu o partido em todo o país, em especial no Estado de São Paulo, em que a legenda fez miseráveis sete prefeituras no primeiro turno, num total de 645 municípios.

Isso tudo, sei bem, vocês não ignoram. Chovo no molhado ao destacar o desempenho pífio do partido. Volto-me então agora para a questão essencial. De verdade, quem é que fala em nome do interesse de meia dúzia e, pois, de vocações perversamente privatizantes? Respondo: o prefeito Fernando Haddad.

Sabem em que consistiu, de verdade, a manifestação deste domingo na Paulista? No chamado “orgulho de minoria”. Aquelas pessoas que lá estavam e “SEU PREFEITO”  (“SEU” MESMO, DELES!!!) compraziam-se, parabenizavam-se e se regozijavam por não fazer parte ou do mundo dos “coxinhas” — e eles sabem que é isso o que são, mas com catupiry — ou por se distinguir da arraia-miúda, da ralé, que votou majoritariamente no nome que estava sendo demonizado na rua: João Doria.

No dia 3 de julho de 2015, escrevi uma coluna na Folha  em que me referia a um PT que havia se divorciado do país. Está lá:
“E olhem que nem me refiro àqueles companheiros que deveriam compor o núcleo da Papuda. Falo é da legenda que passou a ser, quem diria?, demofóbica e que substituiu o velho anseio de ser um ‘partido socialista e de massas’ pela determinação de ser uma falange de socialites de capacete.
Ou não é essa a escolha de um Fernando Haddad quando estimula o fechamento da Paulista aos domingos? Como lembrou a jornalista Lúcia Boldrini, num excelente texto no Facebook, ‘a Paulista não é um fim em si mesma’. E ela indaga: ‘Que fetiche é esse com a Paulista? Como assim ‘tomar’ a Paulista? Quem vai tomar de quem? Quando foi que ela virou a Stalingrado do thomaspikettysmo leblonista?”.

Ou por outra: neste domingo, as poucas centenas que estavam saudando Haddad representavam aqueles que sonharam, de fato, em privatizar a cidade, em torná-la refém de seus valores, de sua ideologia, de seu supostamente superior modo de vida.

Quando afirmaram falar em nome do público contra o privado, estavam mentindo. A democracia os impediu de privatizar a cidade. E, se Doria conseguir vencer o cipoal burocrático para fazer o prometido — privatizar determinados aparelhos, que serão mais bem geridos pela iniciativa privada —, então, aí sim, o interesse coletivo sairá ganhando porque a população terá acesso a melhores serviços.

Privatista, no sentido mais perverso do termo, é aquela esquerda deslumbrada que foi carregar Haddad nos ombros. E, por óbvio, quando um partido de esquerda se transforma num  fetiche de minoria, então a vaca já foi para o brejo.

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